Luiza Hermínia

Minha primeira professora

Quando à escola chegávamos, e logo batia o sinal, preparávamos para hastear a bandeira e cantar o Hino Nacional. O hino era encantador, e aprendi a cantá-lo sem qualquer erro.

Esguia, minha professora, na porta da sala ficava a receber todos os seus alunos. Cada um que chegava, em pé, perto da carteira, permanecia. Só podíamos sentar quando dada a ordem para isso.

Havia respeito ao professor!!! O professor era o "exemplo", era uma espécie de "superhomem", detentor dos saberes que precisávamos alcançar para ser "alguém".

Minha professora falava pouco, somente o necessário, mas lembro-me de suas explicações sempre claras e objetivas.

Os livros não tinham cores e o regime era ditador, mas nem por isso deixávamos de estudar, pelo contrário, estudávamos mais.

As crianças brincavam, cantavam, corriam. Preparávamos nossos próprios brinquedos, ora catando cinco pedrinhas para brincarmos de "Três Marias", ora conseguindo uma corda para pularmos, rodávamos piões, bambolês, cantávamos cirandas com gestos e tudo e ainda procurávamos o anel nas mãozinhas dos colegas ou rodopiávamos grudadas para ver o mundo rodando diante de nós.

Hoje, no dia 24 de dezembro, vi uma pessoa esguia, alta, cabelos curtos, morena, a fazer compras, possivelmente, para o natal. Eu a olhei fixamente e descobri com alegria: minha primeira professora estava lá, depois de tantos anos... gritei seu nome e ela me reconheceu e sorriu. Corri até ela, dei-lhe um forte abraço e comentei que ela estava linda! Sorrimos.

À minha professora Luiza Hermínia dedico esta homenagem, mas dedico também aos outros professores que representam para todos aquilo que ela representa para mim.

A ditadura não foi um regime que nos satisfez, pelo contrário, mas quero deixar aqui, sem fazer comparações, que ser criança é muito bom, principalmente quando aprendemos que nunca devemos deixar de sê-la, independente de qualquer coisa.

Cris Bezerra
Enviado por Cris Bezerra em 26/12/2011
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