ÉS UM FARISEU...

Por quê no decorrer da vida passamos admirar certas pessoas? É porque essas pessoas têm carisma, demonstram honestidade e humildade tanto nas palavras quanto no agir, são respeitadoras, têm senso de companheirismo, são amorosas, religiosas e praticam obras de caridade, tendo, portanto, Fé Viva no seu e nosso Deus. São simples mortais,sejam homens ou mulheres, feios ou bonitos, pobres ou ricos, pretos , brancos, amarelos, pardos ou indígenas. Pois bem companheiros e amigos, aqui vai uma pequena homenagem a um desses mortais. O autor desta crônica chegou neste torrão norte paranaense em Fev/1967 e ainda moço passou a gostar e torcer pelo nosso glorioso JEC – Jandaia Esporte Clube, o “Amarelinho do Vale”. O JEC estava na 1.a Divisão e disputava de igual com os da capital, o chamado Trio de Ferro, Coritiba – Atlético – Colorado, além dos bons do interior, o LEC – Londrina e o GEM – Maringá. Lembro-me que numa partida disputada no Estádio Hermínio Vinhole, entre o JEC 3 x 1 GEM, o Manezinho da Cantina soltou um galo depenado e vivo dentro do gramado, em alusão ao apelido do Grêmio “Galo de Maringá”. Naquele tempo não tinha associações de proteção aos animais e que pena; era só pena que voava! Balaustradas, tiros de garrucha, punhal, peixeiras e dê-lhe brigas: que tinha um três oitão era Capitão e Delegado! Os torcedores de fora saiam corridos daqui e nós saíamos corridos de lá, pois os tapas e sarrafos comiam soltos. E os bingos, ah meu Deus porque fui lembrar dos bingos! Agora, vai. As cartelas eram no seu preenchimento total de 25 pedras, mas tinham uns espaçosos que ganhavam com 30 pedras cantadas, num universo de 75! Eram sorteados fuscas, jeeps, tvs preto e branco,etc., tudo para ajudar a pagar o plantel que era caríssimo. Dizem que a sra. Terezinha Madrona França, esposa do então pres. do JEC, senhor João França Filho ( sei dos nomes corretos porque morei nos fundos da casa deles, à R. Pres. Kennedy,338, por uns três anos, após 1970...) era sempre um sortuda, pois sempre batia rapidinho, rapidinho!Vinha gente de todas as cidades da região e de outros estados, de Birigui, Pres. Prudente e Pirapozinho, cidades do estado de São Paulo. As placas dos veículos não mentiam; eram Sincas Chamboard e Tufão, Decav Vemague e Cupê, Jeeps 4 e 2 portas (principalmente os modelos 51 e 52...), Aero Willis, Peruas Kombi e Ford, Gordinis e Dolfinis, etc.. Todos queriam ganhar o automóveil do momento: o Volks. E como aqui era fácil o pessoal começou a trazer os carimbos e de traz das árvores era tum, tum, tum.Passaram a ganhar até da “sortuda”. Foram descobertos e uns quatro saíram corridos numa Sinca preta e na esquina do Posto Atlântico com a Av. GetúlioVargas reconheci que os “mercadorias” eram de Pirapozinho, cidade onde morei. Isto porque nós,o povão, vimos correndo para pega´-los. Desta feita os prêmios não foram entregues a esses malandros! Mais estórias: muitos torcedores da velha guarda lembram-se de uma partida aqui, entre Jandaia x Ribeirão Claro. No segundo tempo, logo aos dez minutos, nosso técnico tirou o goleiro Carvalho e colocou o Asa,o reserva, pois estávamos ganhando de 4 a 0 e com o domínio total do jogo. Mas logo o Asa tomou um, dois, três, quatro gols e se o juiz não acaba antes..., hummm. Resultado Final JEC 4 x 4 RCFC. Tem outra: dizem que o Jandaia estava bem na pontuação e o Arapongas veio aqui com a necessidade de ganhar para não cair e os “homens da mala” vieram com muito parar no Hotel Dallas (do Ildo Travagim) e queriam “acertar” principalmente com o goleiro Carvalho, mas não sabiam como chegar e aí foi que o Israel Travagim ( vulgo Raé ou Graia) pediu que deixasse com o dega! Recebeu adiantado, a mala inteira, mas não conversou nada com ninguém, nem com o goleiro Carvalho ou com parte do plantel, pois todos eram honestíssimo nesta parte e nunca tinham entrado nessa de vender jogo: o Jandaia não mais almejava o título, daí seria moleza para o Arapongas. Aos 10 minutos de jogo, pênalti para o Arapa e o Carvalho foi buscar a menina no ângulo igual a um gato. O jogo terminou empatado; o Arapongas caiu para a 2.a e os da “mala” vieram bufando pegar a devolução do dinheiro com o Graia. Do mesmo campo do Arapongas o baiano( mas era mineiro...) Venino veio corrido pela linha do trem: briga!E olha que o Venino carregava sempre um ”pau-de-fogo”, enferrujado, mas o tinha sempre na cintura. Do campo da Curva, em Cambé, o Miltinho Ricciardi pulou de uma alta ribanceira e chegou em Jandaia,antes do time: briga! Nessa partida o nosso goleiro foi o Joãozinho Balachita que recebeu uma violenta entrada do centroavante e quase morreu, com problemas no baço. Teve anunciado um eclipse do sol para a hora do jogo do Jandaia e a molecada ficou de prontidão para pular os muros. Mas o danado falhou. Tudo isto para mostrar o grande prestígio que os jogadores tinham e o carinho mútuo dos torcedores da Cidade Simpatia e região. Não esqueçamos também de lembrar de alguns torcedores fanáticos que já se foram; Guilherme Pontara e Hermíndo Sonni, o Hermindão. E os que ainda vivem, como Hermínio Vinhole,o 100%, e o Mario Saddi, atual. Porque não lembrar-mos, também, dos ex-presidentes Josué Onofre da Rocha e GetúlioTurke Sobrinho? Lembranças, também, dos técnicos entre eles o “Barca” (Sebastião Ilhamas Filho),mais recentemente; dos massagistas Manolo e João Ismael, entre outros, dos bandeirinhas, principalmente o Marafon; do roupeiro, Paraíba, que ainda hoje cuida do gramado e do campo em si. Tenho certeza que esquecí de alguém mais ou menos importante para o JEC, mas outro mortal escreverá, ou até eu mesmo, sobre esses outros da pipoca, do sorvete e do amendoim, estes últimos representados pelo finado Raimundo Pipoqueiro. Torcedores normais que se foram,dentre outros: O Bruno Eletricista (Broczowiski)e o Piquira (Ariovaldo Travagin).Parabéns a todos os patrocinadores de todos os tempos que levaram, levam e levarão o nome de Jandaia do Sul, além do estado, para todo o Brasil. Ah, não posso esquecer da honradez do atual pres. Mario Saddi. O “Dragão de Cirola” está dentro do meu coração, por esta e outras. Dentro do Estado do Paraná, tu és muito respeitado, e talvez não saiba o quanto! Houve uma promoção muito tempo atraz para manutenção do Jandaia Esporte Clube e num determinado momento cutucaram um “3.o suplente’ dizendo que a pedra 37 tinha saído. O tal “22” gritou e saiu correndo,chapéu de feltro vou, cigarros caíram. A fera voltou chateada porque na conferência constatou-se a não saída da 37. Foi pança no duro e depois de uma ou duas pedras outro foi o ganhador, não chegando às três da tolerância. Dizem quem cutucou foi o Dr. Amintas, mas esses nunca foi brincalhão!

Voltando-se ao grande Kosilek, não mencionado ainda, mas figura oculta do contexto acima, o qual recebeu homenagens e elogios dos jornais paranaenses pela passagem do seu mais bonito gol: sua morte, em 15/ Fev/2005! Esse “Pelé Branco” passou pelas categorias de base do Corinthians Paulista; Inter, de Porto Alegre; em 1966 veio para o Jandaia Esporte Clube ( D.a Ivone Martinez foi uma das intermediárias), artilheiro e sagrando-se campeão da Segundona. Em 1967, já na 1a. Divisão, fez estrago nos adversários e foi artilheiro com 28 gols. Daí foi cobiçado por vários clubes brasileiros, mas foi o Coritiba que levou o futebol do famoso “cai-cai”, me perdoe fariseu, e mais 3 atletas: Servilho, Meia Direita: Toninho,o Português, ponta esquerda; e o Carvalho, goleiro. Foram todos vendidos por R$ 80.000,00 (oitenta mil cruzeiros). Uns diziam que era muito dinheiro, outros que era pouco pelo grande futebol que tinham. Já o Coutinho e Paranazinho foram vendidos para o interior paulista, o América de Rio Preto. Em 1968 e 1969 no Coritiba sagraram-se campeões e bicampeões.Em 1971, Kosilek foi vendido para o Vasco, por ser loiro e nome ucraniano como o Kriger foi por engano para o Rio, desfazendo a dupla de sucesso: o Vasco queria o Kriger! Fez sucessos lá também, depois no Vitória – BA, entre outros. No final dos anos 70 retornou a sua cidade do coração, trabalhando por muitos anos na Radio Jandaia, como uns dos bons comentaristas esportivos da região. Era corintiano fanático, mas nunca um chato! Sabia analisar e reconhecer as limitações e derrotas de seu time do coração.

Lembro-me da festa do título brasileiro de 2004 do Santos, o Kosilek subiu pela calçada na altura dos sinaleiros da Av.Getúlio Vargas e no terreno do antigo Dingo Bar, fizeram-no carregar a bandeira do Santos Futebol Clube carregado nos ombros pelos santistas que o jogava para cima. Para ele era só festa! Era um fariseu...! Aceitava tudo na esportiva! Irmão fariseu, você nos deixou materialmente,um leão aos 61 anos, mas como disseste, na véspera dia 14/02, no seu programa esportivo que já tinha pago todos os pecados e achava que tinha um pouco de crédito com o Homem lá de cima, achamos que também já perdoaste os que aqui ficaram e brincavam contigo numa boa, com certeza. Fariseu, tu fostes sem mácula, porque procuraste ser um santo, bom cristão,cumpridor de seus deveres, bom comentarista e paciente com os times amadores da região no marcar e desmarcar jogos, bom divulgador das pequenas promoções,principalmente das Entidades Sociais, misseiro de carteirinha, boas lembranças deixou aos vicentinos quando muitas vezes fostes às reuniões do Asilo, fiel ao seu costumeiro hábito de tomar “uma cascavelzinha”, lá no Dingo Bar, do seu e nosso amigo santista Pão Doce, principalmente. Que bonitas outras homenagens você recebeu,fariseu: músicas religiosas de seus colegas na Rádio Jandaia, Bandeiras do Jandaia-Corinthians-Coritiba no seu caixão, muitas coroas de flores de todos os segmentos da sociedade, Missa de corpo presente pelo nosso pe. Vergílio Cabral que bem lembrou do termo fariseu que tú usavas e da boa aula de Anatomia que nos proporcionaste, nas palavras do padre. E por fim, a Taça Kosilek,que está sendo disputada, todos os domingos, no Estádio Hermínio Vinhole por 14 equipes amadoras da região,em retribuição ao que fizeste por elas, com início em Fevereiro e término para Abril/2005. Esperamos que logo os edis e, por esta já fique a cobrança, que a Câmara Municipal determine a colocação de seu nome numa nova rua ou nova praça: “ João Kosilek Júnior “. Fariseu ( entre outras definições é “aquele que aparenta ser santo, sem sê-lo”), você caminhava para ser, não um fariseu, mas um santo”até breve e, Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Autor: Ponga (Rua Rotary,73 – email: adionesgsilva@pop.com.br)

SPJ/Doc.004/JDS/FEV/05