255 - DOIS UNIVERSOS...
 



Quando me deparei com um comentário de antiga colega do tempo de faculdade, aqui no Fb, foi assim como eu estivesse vivendo um daqueles momentos nos anos setenta que marcaram para sempre os da minha geração. A sensação era, como se houvesse uma maneira mágica de traduzir em realidade, aquele torvelinho de pensamentos que momentaneamente me ocorrera. Eu me vi adentrando na sala de aula desde o primeiro dia, fazendo os primeiros contatos. É bem verdade que alguns colegas já conhecíamos, pois, fomos pares durante o Curso Técnico. Mesmo assim, daqui em diante eram outros níveis de exigência; os sonhos em transformação para a realidade. Nos primeiros dias foram palestras e uma série de atividades que nos proporcionaram meios de fazermos uma integração entre alunos e professores. Éramos como aprendizes de guerreiros, e assim nos sentíamos, como se após aquelas aulas nos tornássemos capazes de sairmos para enfrentar o mundo em novas conquistas. As primeiras experiências com novos métodos de ensino-aprendizagem um desafio e prenúncio de uma doce aventura. Como alunos vindos de um curso técnico, faltavam-nos conhecimentos e práticas da área do magistério. Nossas armas e práticas eram outras. O nosso curso, na formação da grade curricular, privilegiava e nos levava ao pragmatismo do fazer na área técnica contábil. Todo esse cenário passou diante dos meus olhos. Diante de tão boas lembranças, por mais que tentasse disfarçar uma estranha sensação de umidade nos olhos e um nó na garganta foi se apoderando de mim. As melhores lembranças dos colegas de classe, cuja amizade se iniciava nos primeiros anos da década de setenta e que se perpetuaria ao longo dos anos.

Alguns éramos operários acostumados com rudes ferramentas do cotidiano sujeitos a um rápido aprendizado para lidar com novas armas e ferramentas daquele maravilhoso mundo novo que se descortinava, a “Faculdade”, com seus valores e suas idiossincrasias. Viver durante o dia o mundo do trabalho: Mecânico usual, rotineiro, manual e de dura realização e à noite completa mudança e transfiguração. Outro mundo, sem sombra de dúvida. A cada arma dominada com destreza era nova ferramenta para os enfrentamentos. Essa dicotomia e esse dualismo nos consumiam. Para os formados do curso acadêmico e magistério seria tão somente práticas das vivências sociais humanas. Aos egressos do Colégio Nossa Senhora das Dores onde a educação exclusivamente feminina, na época, proporcionava outros saberes como filosofia, psicologia, teatro, pintura e iniciação musical (canto coral) ou mesmo os da Escola Estadual Mestre Zeca Amâncio com sua formação também mais voltada para a área de humanas.
Os primeiros desafios seriam incorporar até mesmo o vocabulário ligado à área de atuação social. Egressos do Curso Técnico tudo era novidade, até o próprio ambiente. Era o novo de novo nos desafiando. Os professores nos ensinamentos eram como os generais preparando-nos para a guerra do saber. Cada um deles querendo descobrir o melhor em habilidades dos seus pupilos.

Naquele momento político, em que vivíamos num dos mais fortes momentos da repressão militar da chamada “Revolução” se alguém ousasse fazer qualquer ilação quanto à similaridade ou a mais remota semelhança com os ditos, poderia haver uma reação inimaginável, visto que alguns dos professores já tinham passado por algumas escaramuças com o aparelho de repressão nas suas cidades de origem. Mesmo dentro das suas próprias hostes poderia existir alguém que não compartilhasse com as idéias que ou outros defendiam. Mas é próprio da natureza humana defender com unhas, dentes e outras armas suas crenças transformando batalhas em guerras. Mesmo na Grécia ou na Roma antiga estar preparado para a guerra era a melhor política onde pudesse faltar o convencimento através das palavras.
Recordo-me com uma ternura de arrepiar do primeiro ano (1970) do curso de letras. Lembro-me bem que ao término do primeiro ano, início do segundo as matérias de língua estrangeira, no caso, inglês e francês seriam ministradas aos sábados na totalidade das cargas semanais (quatro aulas) e no meu caso tive que trancar a matrícula, pois, aos sábados ainda batalhava o dia inteiro o que tornava impossível continuar o curso. Com muito pesar joguei a toalha e depus as armas.

Naquele ano, logo após ter cancelado o curso, passei em concurso interno na empresa e no ano seguinte voltei ao curso de Letras. Não consegui descobrir nas outras turmas magia que sequer se assemelhasse ao nosso primeiro grupo. Agora tento lembrar-me dos nomes e rostos de toda aquela galera... Vou puxar pela memória: Selma Alvarenga Guerra, Sylvia Lúcia Brandão, Maria Regina Figueiredo Alvim, Maria Efigênia Alves, Maria Tereza Lage Magalhães, Marília Drumond Lima, Sônia Vieira (Barão de Cocais), Hercília Silva Reis, Flívia Carvalho Procópio, Maria da Conceição (Monlevade), Eustáquio Ferreira, Eup Cantalice de Barros, Darci Oliveira, José Benjamim de Oliveira, José Eustáquio Hemétrio de Menezes...

Viver é caminhar nos dois mundos e estando muito bem preparados para a luta como estavam os aprendizes de guerreiros da nossa Ítaca foram à guerra. Alguns em direção às “Américas” outros para o “Velho Mundo” em busca talvez, de sonhos perdidos, fossem, os reais ou imaginários...
                                                 Itabira-MG, 17-01-2012
CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 01/02/2012
Reeditado em 09/04/2012
Código do texto: T3474328