A loucura saudável chamada Andy Kaufman
A loucura saudável chamada Kaufman
Um suspiro na tempestade habitual. A gota de coragem no temporal de convenções. A crença na maior mentira – levada a sério em um destemor suicida.
Uma miríade de personalidades únicas. Olhos de criança disfarçados pela inocência construída. Os cabelos alinhados em recuo que se rebelam na passagem de seus números. O sorriso hermético que zomba de todos, como a falsa humildade do estrangeiro.
Lampejos ininterruptos de genialidade bruta. A vanguarda não efêmera de delírios orquestrados. Cada passo desengonçado um ato, toda aparição um fragmento de sua obra retalhada. Hiatos programados pelo ajudante de garçom bem humorado – o homem na lua, que gostava de fincar os pés no chão.
A única imitação reconhecida pelo rei, salvando o dia em sábados à noite – no compasso de um velho gramofone. A figura decadente mal timbrada, entediando a plateia com versos enfadonhos – na cadência de um Gatsby diminuto. A mistura que transcende a comédia, risos e vaias no mesmo caldeirão – na expectativa do bongô.
O gladiador quebradiço em ringues sem ípsilon. Vestido com a gola mais alta da cidade dos pecados, torcendo para que continue incólume no Tennessee. Lançando copos d’água de pura perplexidade na cabeça de idiotas e inflando a bochecha para ser estapeada.
A farsa de um estratagema, absolutamente, real. A originalidade que não pode ser compilada. Uma fagulha de vida no marasmo da existência. A morte desacreditada pregando a peça derradeira. A última façanha rumo à imortalidade.