Clarice

Clarice era igual às meninas da sua idade, porém algo lhe dava todo o seu ar juvenil; era um tanto atrevida como os meninos geralmente são. Tinha um ar de menino e não de menina, porém lograva a todos com seu jeito de menina. Com os olhos envoltos sobre os arcos da velha rua que se dissipavam acima dos seus olhos. Havia no fim da pacata rua, uma casa. Não! Na verdade era um casarão abandonado às pragas como assim dizem por ai.

Eu Clarice... Como menina que mais tinha instinto de menino, pulei o portão que tinha pequenas lanças que se projetavam para cima, cair em cima de tais lanças era fatal, porém eu era Clarice e não qualquer menina da minha idade, eu era indolente é impaciente com certas situações, porém desta vez não me fui tão indolente, a situação era um tanto retórica. Aquela casa um tanto escarpada me instigava os instintos. Como toda moça eu tinha meus receios, casa abandonada sempre é sinal de perigo, para mim o perigo não era nada mais que uma simples aventura, pois eu bradava:

— Se houver alguém que seja... Desde mundo ou do outro que ouça bem que aqui quem fala:

— É Clarice e não é qualquer menina não...

Um silêncio sepulcral se fazia dentro da casa... Nem um barulho se ouvia, guiada pela pequena sombra que se projetava diante do portal, com detalhes que iam de obeliscos até pequenos arranjos de flores.

Ó mutismo daquele lugar era tremendo. Como todo receio típico de menina, eu caminhei...

Lentamente subi as escadas que se declinava sobre mim, era algo um tanto incomodo, digo pela vertigem mesmo.

Mais como não era qualquer menina. Eu pouco me ausentei desta idéia de altura, eu tinha um medo insignificante de extremas alturas, mas a coragem falará mais alta, e fui guiada pela coragem. Fui me esgueirando tanto pelos olhos como pelo corpo. Um silêncio sem pai e sem mãe era o que reinava...

Até que ouvi claramente por entre as frestas da janela... O vento soprava uma fraca brisa é um singelo raio de sol, tentava me alcançar, mas pela distância ficamos longe um do outro. O corredor era espesso e os quartos reinavam de ambos os lados, me cercavam sem pudor, eu me espreitava á olhar, meio tímida. Olhando um por um, nada me comovia, nem um sentimento qualquer, era uma porcaria mesmo... Isso sim!

Quando entrei no último, um bichano entrou pela janela, de olhos agigantados, parecia uma fera selvagem, imponente sobre a janela. Ao vê-lo cai de costas, ele ficou a espreita há me observar com sua pose estática e retórica. Era um gato um tanto peculiar, por sua tonalidade e sua pelugem. Era cor de avelã, mesclado com um branco, que por conta da imundice que acabou-se por se mesclar com o avelã. Fiquei olhando para ele durante vários minutos... Em um flerte mútuo, nos fitávamos sem nem uma ocupação ou quaisquer preocupações. Naquele momento só estava eu menina de nove anos, é um gato astuto de órbitas cintilantes. Foi quando de repente num ato de medo, de instinto felino mesmo ele partiu, assim levando uma parte... Algo de mim...

Pouco li... Apenas ouvi suas histórias que mexeram com a minha imaginação, me indagando a não desistir se quer por um minuto de escrever. Uma mulher como tantas mulheres brasileiras, porém não era qualquer é sim era Clarice Lispector...

Morgan Austere
Enviado por Morgan Austere em 04/04/2012
Reeditado em 29/07/2014
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