HOMENAGEM AO BAIRRO DO LIMÃO.

No início do século 20, no dia 1 de outubro de 1922, nascia um bairro do outro lado do Rio Tietê com algumas fazendas e sítios, um bairro que sobreviveu a inundações e intempéries e hoje tem muita história pra contar. Estou falando do Bairro do Limão.

Dizem os antigos que a existência de um pé de limão bravo na divisa com a Freguesia do Ó fez com que moradores da época se referissem àquele bairro como o do Limão. E não precisa dizer que este fato acabou batizando o lugar.

Em 1935, a primeira linha de ônibus, a de número 92, que saía da Barra Funda e ia até a Vila Maria, começou a transitar pelo bairro. A passagem custava cerca de vinte reis e o intervalo de espera era de mais ou menos duas horas entre cada ônibus. Apesar da demora na espera, este foi um fato que os moradores viram com bons olhos, como um sinal do progresso chegando.

A casa mais antiga do bairro ainda esta de pé e localiza-se na esquina da Avenida Freguesia do Ó com Avenida Celestino Bourroul. Esta residência, que já abrigou famílias e até uma loja chamada "Ao barateiro do Limão", hoje abriga um empreendimento de caráter duvidoso, um tipo de entretenimento masculino, se é que me entendem, mas que nem por isto diminui o valor cultural do patrimônio.

Outra construção que também merece destaque é a casa que pertenceu a Carolina Capua, umas das famílias fundadoras do bairro, que se localiza em frente a Caixa Econômica Federal, na Avenida Celestino Bourroul. Esta casa já foi posto de saúde, pizzaria, e hoje abriga a Escola Infantil Fazendinha e ainda mantém a sua arquitetura original, com a fachada de tijolos aparentes.

Uma das chácaras que se destacou daquela época se chamava Radiva, pois além de possuir árvores frutíferas, era também detentora de uma fonte de água mineral e de caráter curativo. A localização da Radiva era entre as avenidas Freguesia do Ó e Deputado Emilio Carlos, e dizem que a porteira de entrada desta fazenda era localizada onde hoje está a escolinha "Aquarelinha", ali na Roque de Morais. A fonte propriamente dita ficava na altura de onde hoje está a Praça 3 de Outubro (Praça Zero).

Infelizmente esta jóia da natureza acabou sendo soterrada quando da construção do conjunto residencial Nova Pacaembu. Segundo informações que obtive navegando na internet, a comunidade, juntamente com as autoridades municipais, está começando uma campanha/batalha para o renascimento da Fonte Radiva, o que seria uma grande vitória em se falando de preservação e resgate de um patrimônio valioso do bairro.

Outro patrimônio do bairro é o Colégio Padre Moye, o qual está há muitos anos sob a direção da Irmã Mercedes, fundado em março de 1942 pelas irmãs da Providência de GAP e que tem como patrono o beato francês João Marinho Moye. Este colégio tem acompanhado o desenvolvimento da região assim como a Paróquia Santo Antonio do Limão; ambos têm suas histórias confundidas com desenvolvimento do bairro.

Falando na Paróquia, esta foi fundada em 1939 com seu primeiro pároco, o saudoso Padre Vitorino. Uma informação que me surpreendeu foi a existência de um prédio anexo à igreja o qual abrigava um cinema paroquial, este com data de 1959. O cinema chamava-se Ozanam, em homenagem a Frederico Ozanam, fundador da Sociedade São Vicente de Paula. A construção possuía dois andares, com uma platéia e balcão superior, com direito até a uma bomboniere que vendia doces e quitutes para o público. Com sessões semanais, este Cine Paroquial funcionava em grande parte com ajuda de voluntários, contando com exibições de filmes religiosos e também com uma sessão chamada Zig-zag, com desenhos animados especialmente para crianças.

Este prédio foi restaurado no ano de 2007, resultado do esforço da paróquia e membros da comunidade. Outra curiosidade sobre a paróquia era que no terreno existente ao fundo da igreja havia um campo de futebol, onde o time de futebol Açucena dava seu show de bola.

Das figuras ilustres do bairro gostaria de citar o primeiro médico da região que se chamava Dr. Álvaro Simões de Souza, sempre lembrado pela sua bondade e atendimentos humanitários. Também cito aqui Julio Bento Gonçalves, português de nascença, mas seu coração era todo bairro do Limão. Camisola, como era seu apelido, possuía uma bicicletaria e também foi um ciclista que ganhou várias provas da competição 9 de Julho.

E assim termino a história do meu querido bairro do Limão, ilustrada por memórias que emprestei de moradores, uma colcha de retalhos em que fui emendando pedaço por pedaço destas lembranças garimpadas. Uma singela homenagem a estes pioneiros, a estas famílias que construíram a história deste bairro e que iniciaram esta saga, como os Capuas, Primons, Penteados, Gios, Gonçalves, dentre tantos outros.

Estas são as lembranças que não vivi, contudo tenho orgulho de contar, pois aconteceram no bairro que me viu crescer.