Madura (para minha mãe)
Há muito sou madura.
Há muito passei da idade da loba,
Da vovó coruja. Hoje sou uma “fera”
De uma outra idade: as rugas
Exigem gentilezas, respeito, devoção.
Há muito sou madura..
O vento no varal,
Secando a roupa dos netos,
Deixa claro que a vida sempre se renova
E o amor nunca envelhece.
Agradeço a Deus
Por ser tão iluminada:
Dei a luz por sete vezes.
Hoje duas gerações
Me cumprimentam.
Recebo votos de saúde e
Felicidade sempre em dobro.
Há muito sou madura.
Trago em meu peito
Décadas de saudosas primaveras, de
Rudes invernos, de verões apaixonados.
Mais do que plásticas e perfumes,
Minha pele precisa da delicadeza do toque,
Do carinho de alguém querido.
Nunca fui vaidosa.
O brilho dos meus olhos
Insiste em dizer que a essência é
Maior que a beleza:
O vinho, quanto mais velho, melhor.
Há muito sou madura.
É meu direito envelhecer,
É meu dever recordar.
Em meus lábios repousa profundamente,
O beijo do meu saudoso amor:
Ser viúva é apagar a luz para dormir,
É estar só na solidão.
Por muitos anos devolvi
A bola que os meninos atiravam no pátio,
Por isso hoje valorizo quem me “dá bola”, atenção.
Sou mulher, mãe, avó.
Amei e fui amada.
Um corpo assim
Não se consegue nas academias;
É preciso tempo, profundidade, dedicação.
Há muito sou madura.
E sempre fui feliz.