Madura (para minha mãe)

Há muito sou madura.

Há muito passei da idade da loba,

Da vovó coruja. Hoje sou uma “fera”

De uma outra idade: as rugas

Exigem gentilezas, respeito, devoção.

Há muito sou madura..

O vento no varal,

Secando a roupa dos netos,

Deixa claro que a vida sempre se renova

E o amor nunca envelhece.

Agradeço a Deus

Por ser tão iluminada:

Dei a luz por sete vezes.

Hoje duas gerações

Me cumprimentam.

Recebo votos de saúde e

Felicidade sempre em dobro.

Há muito sou madura.

Trago em meu peito

Décadas de saudosas primaveras, de

Rudes invernos, de verões apaixonados.

Mais do que plásticas e perfumes,

Minha pele precisa da delicadeza do toque,

Do carinho de alguém querido.

Nunca fui vaidosa.

O brilho dos meus olhos

Insiste em dizer que a essência é

Maior que a beleza:

O vinho, quanto mais velho, melhor.

Há muito sou madura.

É meu direito envelhecer,

É meu dever recordar.

Em meus lábios repousa profundamente,

O beijo do meu saudoso amor:

Ser viúva é apagar a luz para dormir,

É estar só na solidão.

Por muitos anos devolvi

A bola que os meninos atiravam no pátio,

Por isso hoje valorizo quem me “dá bola”, atenção.

Sou mulher, mãe, avó.

Amei e fui amada.

Um corpo assim

Não se consegue nas academias;

É preciso tempo, profundidade, dedicação.

Há muito sou madura.

E sempre fui feliz.

Alexandre Lettner
Enviado por Alexandre Lettner em 13/05/2012
Código do texto: T3665668
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