Morte anunciada.

Dor, médicos, exames, câncer!

Choro! Pergunto, por quê?

Faz-se noite e nada!

Sem o sono dos justos, me revolto.

Penso, olho-me no espelho e choro!

Revolto grito e amaldiçôo a Deus.

Vem o medo! Mas escondo dos meus.

Digo-lhes que não é nada,

e que hoje nossa ciência é elevada!

Ah doces doutores!

Dão-nos o remédio da esperança,

sem nos mostrar as grandes esperanças.

Falam-nos de novos e velhos tratamentos,

na matemática das chances.

Gozo cruel, do percentual da pouca chance.

Cravo minhas unhas, em minha’lma neste difícil tratamento.

Vem a dor, no mar revolto de minha carne.

Surgem os excrementos de minha dor!

Hora penso em minha fé, que antes nem sentia ou tinha fé.

Melhoro? Tenho cura? Curo?

Hora penso na morte, que antes nem sonhava com ela.

Hoje? Amanhã? Um ano, dois, três? Quantos?

Como cobaias me sentem! Como ratos de laboratório, me tornam!

Mais médicos mais exames e muita dor.

Sinto precinto, mas não passo aos meus.

Aos meus lhes digo esperanças, os meus me dão esperança!

Sempre fui guerreiro e se hei de morrer, morrerei na guerra.

Ah doce batalha! A minha é de gigante, pois luto por minha vida.

Penso no passado, presente e futuro, mas sem o menor futuro!

Lembro-me de uma antiga lição, que li, aprendi,

mas esqueci e nem vivi!

O pai eterno nos escreveu, cuida de tua casa,

pois ela é a tua única morada.

Que idiota fui! Fumei, bebi, comi por muito em minha gula.

Doces, luxuria doce gula, que vi e vivi!

Conformado, sorrio aos meus e brincamos aos últimos suspiros!

Digo-lhes que logo estarei bem!

Sorrimos, em nossas ultimas mentiras compartilhadas.

Durmo, UTI e me vem o sono eterno!

Fernando A. Troncoso Rocha.

Texto in-memória ao meu pai,

Falecido por uma infecção pulmonar rara,

que lutou por 6 anos contra a mesma.

Dasio Rocha Rodrigues.

22/09/1932 - 14/08/2005

“Saudades”