Jorge, o Amado da Bahia

“Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."

(José Saramago)

Era assim que Jorge Amado vivia, deixando o seu coração sangrar. Sangrava em tempos de guerra, em tempos de ditadura militar, sangrava diante das injustiças sociais, porque lhe doía a dor alheia. Todavia, seu coração sabia sangrar de outra forma quando ele se derramava de amor pela Bahia. Hoje, esta terra tão bem representada, pela sua arte de escrever, pelo seu dom de contar histórias, sente uma saudade imensa daquele que foi, é, e será, o mais baiano dos baianos. Aquele que ousou, como ninguém, quebrar paradigmas, com o seu jeito ímpar de misturar ficção e realidade, a ponto de sofrer perseguição severa, por conta dos seus escritos.

Jorge era determinado, espirituoso, um vanguardista, um ser único, um homem a serviço do seu povo, e por que não dizer a serviço do mundo? Dentre inúmeros prêmios recebidos, destaca-se o 'Prêmio Pablo Neruda', que lhe foi entregue pela Associação de Escritores Soviéticos, motivado pelas suas ideias humanitárias.

A Bahia, neste dia 10 de agosto de 2012, abre as portas, os corações para homenagem especial ao seu Jorge Amado ou Amado Jorge, como tem sido, por aqui, carinhosamente reverenciado. Acredito que Jorge esteja, também, lá do alto, se organizando, com seus amigos que se foram, para uma bela comemoração dos seus CEM ANOS de vida. Talvez, festeje num lugar propício: o 'Jardim de Inverno', da sua querida e eterna, Zélia Gattai; onde os dois devem estar de mãos dadas, bem juntinhos, a relembrar coisas da Velha Bahia. Lá, não há de lhe faltar convidados. Comecemos por Dorival Caymmi, que poderá entoar a sua linda canção, 'Saudade da Bahia'. E, nós, daqui, das janelas do Pelourinho, da Fundação Casa de Jorge Amado, olhando para cima, cantaremos juntos: “Ai, se ter saudade é ter algum defeito/Eu, pelo menos, mereço o direito/De ter alguém com quem eu possa confessar”.

Receber o 'Prêmio Pablo Neruda', foi extremamente importante para Jorge Amado, pois ambos eram companheiros de luta. Pablo e ele sonhavam com uma América Latina mais justa. Foi assim que se tornaram, declaradamente, amigos fraternos.

Pablo Neruda, ao escrever seu poema 'Acontece', disse em versos:

“Bateram à minha porta em 6 de agosto/aí não havia ninguém”. Não sabia ele que naqueles versos estava oculto um outro importante acontecimento: porque, exatamente, num dia 6 de agosto, Jorge Amado nos deixa para ocupar lugar, em outras galáxias, para se reencontrar com esse amigo eterno. E, se fosse hoje, Pablo Neruda, certamente, comporia 'Acontece' de outra forma, e aquele ‘ninguém’ seria substituído por um alguém muito especial: Jorge Amado, que Deus escolheu o dia 6 de agosto de 2001, para que ele retomasse aquela velha e eterna amizade, que já o esperava lá, no andar de cima.

Jorge Amado, Amado Jorge, a Bahia agradece por estar, cada vez mais, através de suas obras, dialogando com o mundo.

Você é imortal. Feliz aniversário! Feliz Centenário!