O olhar de uma filha...

Algumas pessoas não entendiam como uma senhora, na idade de Mamãe, andava a qualquer hora e para qualquer lugar, sem depender de ninguém. Mas, quem a conhecia bem e sabia de sua trajetória de vida, entendia perfeitamente a sua liberdade no pensar e no agir.
Mamãe sempre trabalhou e teve a sua autonomia financeira até os últimos dias de vida, entre nós.
Ela era, realmente, independente e determinada. Nunca foi de se lamentar, mas de arregaçar as mangas, lutar e seguir em frente. Costumo dizer que Mamãe nasceu na década errada, pois ela sempre esteve à frente de seu tempo!
Olhando para trás, e comparando-a com as mães de sua geração, não me lembro de nenhuma outra que tenha vivido com a mesma intensidade, garra, superação e consciência da importância da mulher na sociedade.
Uma pessoa inteligente, de personalidade forte, eticamente correta, verdadeira, comprometida com o social, rédea curta com os filhos, elogiada por todos. Enfim, brilhante em tudo o que realizava.
Gostaria de herdar sua garra e determinação, o caminhar seguro e a infinita disposição física. São três filhos, sete netos e três bisnetos (quatro como ela dizia, pois tem mais um a caminho) que, juntos, não conseguiam acompanhá-la com a mesma frequência e resistência... Aos oitenta e seis anos surpreendia, pois sua vitalidade era admirável!
Nós tentamos 'domá-la' com receio de uma queda, um assalto e tantas outras coisas ruins que hoje nos atormentam, mas, destemida, ela saía sozinha, até há pouco tempo andava de ônibus, sentia-se independente. E era mesmo! 
Seu médico sempre dizia que freá-la era o mesmo que cortar as asas de uma andorinha! Às vezes, tínhamos vontade de colocá-la sentadinha, 'pensando', como se faz com as crianças traquinas nas escolas. Mas, quando enfim sentava, era motivo para fazer palavras cruzadas, ler um bom livro, relacionar todos os seus pertences, conversar ao telefone ou mesmo receber amigos...
Graças a DEUS, Mamãe, que sua juventude intelectual a fez renovar as forças e torná-la fisicamente melhor que todos os filhos juntos! Obrigada por existir em nossas vidas, em partilhar e ensinar que a fé, realmente, move montanhas! Obrigada, também, por repetir: "O maior tesouro é o conhecimento. Este ninguém consegue roubar”.




* Escrevi esse texto quando minha Mãe tinha 84 anos. Após o seu falecimento, aos 86 anos, fiz uma adaptação para homenageá-la, sendo lido por uma de suas netas nas 02 missas de 7º dia (* 08.11.1925 / ' 10.08.2012).