"ESCRITORA NOTÁVEL"

NOTÁVEL ESCRITORA

Era uma família do Rio que se mudara para Brasília e lá teve outros filhos, além daqueles que já levaram daqui... Ao todo, seis filhos: cinco meninos e uma menina...

Na época da mudança, Brasília estava em franco desenvolvimento e a numerosa família foi adaptando-se e criando os filhos dentro dos padrões de decência, de honestidade e religiosidade. O casal, ambos de família humilde, vinham ao Rio todo ano, com toda a turminha, visitar os parentes, principalmente os pais, irmãos, tios, primos e etc... Era a oportunidade de rever a cidade de origem e também de matar a saudade de todos...

Numa dessas viagens, já de volta pra Brasília, sofreram um grave acidente com o carro que despencou de uma ribanceira e, é lógico, toda a família sofreu toda a sorte de fraturas, exceto a garotinha, que na época , tinha apenas nove anos de idade e que nada sofreu. Como era noite, o pai mandou que todos gritassem pedindo por socorro e, assim, foram resgatados e levados para o hospital de uma cidade próxima...

Os casos mais graves, foram os da mãe e dos dois meninos mais novos, que sofreram várias fraturas e tiveram que ficar mais tempo no hospital. O pai e as demais crianças, tiveram alta do hospital e foram para casa...

Uma das tias das crianças, por parte da mãe, foi para Brasília ajudar a família acidentada . Sua ajuda foi providencial, visto que, não tendo parentes em Brasília, ficava difícil administrar uma casa sem ajuda: o pai, com fratura na bacia, os meninos, cada um, com a perna ou o braço engessados. A mãe e os dois menores ficaram, ainda hospitalizados...

Porém, a bondosa tia precisava voltar para o Rio; tinha Ela , também, uma família numerosa para cuidar...Foi substituída por outra tia, esta, por parte do pai, que chegou no mesmo dia da empregada, contratada para zelar pelos serviços da casa...

Dias depois, a mãe e os dois menores, também tiveram alta. A tia, então, pode cuidar de todos dando banho nesse, mudando o curativo do outro, colocava sacos plásticos nos membros engessados para evitar que se molhasse o gesso, controlava os medicamentos, enfim, de certa forma, era um serviço legal porque a turminha também era legal e sempre colaborava, considerando aquele acidente, como uma coisa normal que acontece na vida das pessoas, sem reclamações ou choramingos... Via-se que, além de inteligentes, possuíam ótima formação moral e religiosa, oriundas dos pais. Mas... tinham , também, personalidade! ... Na hora do lanche da tarde, davam trabalho pra empregada que ficava irritadíssima...

- Eu quero queijo quente_ dizia um...

- E eu, pão com mortadela_ pedia o outro...

- O meu lanche, eu mesmo vou fazer: sai daí do fogão... Vou preparar um mingau de aveia...

- O meu é misto quente... Deixa que eu também preparo...

- Chega !!!!!!!! __ Gritou a empregada... -- Aí, patroa, assim não dá! Essas crianças fazem uma sujeira aqui na cozinha, logo depois de eu deixar tudo limpo...

A mãe das crianças, ainda acamada e nervosa com a atitude da serviçal , defende a sua prole:

- Maria, por favor, saia daí da cozinha e deixe que meus filhos preparem seus próprios lanches. Eles estão acostumados a fazer isso... Deixe-os comer o que quiserem... Antes gastar na comida do que na farmácia... Vá fazer outra coisa até que eles terminem o lanche...

No dia seguinte, tiveram que mandá-la embora porque, não gostando do que ouvira da patroa, foi para a área onde a tia passava umas roupas e confidenciou:

- É por isso que eu ando sempre armada, com uma faca na bolsa...

- Como assim?... Por que armada? Tem medo de ser assaltada? _ perguntou a tia, incrédula...

- Não, é para eu me defender dos patrões salientes...

Ao contar ao irmão o que ouvira, não tiveram outra alternativa...

Mas... Nessa família, a garotinha de nove anos e que nada sofrera, quando não estava estudando ou escrevendo, fazia também, suas travessuras. Numa dessas, como era a única que podia usar e abusar da sua infantilidade, quis imitar os equilibristas de circo e, achando que podia se sustentar, subiu num desses galões de 50 litros que os adultos deixam para alegria da criançada... Levou um baita tombo e deslocou o osso do cotovelo.

Mais uma preocupação para aquela mãe que, acamada e impossibilitada, não podia socorrer a filhota travessa; diante disso, recorreu à tia:

- Por favor, leve a minha filha ao Hospital de Base de Brasília... Lá ela será bem atendida...

- Vou, sim__ respondeu a tia__ Porém, não sei andar em Brasília. Há alguém que possa me acompanhar?...

- Há sim... Qualquer dos três mais velhos, o que estiver em melhores condições, será capaz de acompanhá-la... Meus filhos são espertos e, vez por outra, temos que levá-los lá por conta das travessuras... Sem contar, também, por causa das doenças comuns em crianças como: catapora, sarampo, coqueluche e etc...

Ao chegarem ao Hospital, o médico que as atendeu, perguntou, com um sorriso desses que conquistam na hora, tanto a criança, como quem as levou:

- A senhora é a mãe dessa boneca?...

- Não, Doutor. Sou a tia e moro no Rio. Estou aqui em Brasília para dar suporte à família dessa boneca, que sofreu um grave acidente de carro quando voltavam do Rio. Todos, exceto Ela, tiveram fraturas e ferimentos diversos, mas felizmente, nenhum óbito...

- Muito bem... Então, por que está Ela aqui, sem ao menos chorar?

- Como não sofreu nada que a impedisse de brincar, usando e abusando desse privilégio, subiu num galão e, tentando equilibrar-se, acabou levando um tombo e machucando o cotovelo...

- Muito bem... Vamos ver isso...

Após o resultado positivo do deslocamento do osso do cotovelo, o médico tentou por três vezes, manualmente, colocar no lugar, o osso deslocado. A cada puxão que dava, a garotinha sequer chorava. Nova tentativa e nada... Na terceira e última tentativa e, após o resultado do terceiro RX, sem a solução do problema, o médico sentenciou:

- A menina é corajosa!... Tentei evitar a cirurgia, mas não tem jeito: temos que operar... Vocês podem voltar pra casa e venham, amanhã para buscá-la...

Pela manhã, a tia e o sobrinho voltaram ao Hospital a fim de levar a garotinha pra casa. O mesmo médico, ainda de plantão, os atendeu com o mesmo sorriso e com as devidas recomendações:

- Tomar, nas horas certas os medicamentos, fazer repouso e, principalmente, não tentar, de novo, a mesma travessura...

- Sabe Doutor, Ela faz travessuras como todas as crianças, mas é estudiosa, lê bastante e já escreve como gente grande, além de ser generosa... Acho que Ela, para ser solidária aos irmãos, resolveu provocar um acidente para ficar como eles, engessada, também...

FIM

ADENDO: Creio que, quase todos perceberam que a garotinha, personagem desse conto trata-se da NENA MEDEIROS e a narradora, sou eu, a tia Thereza Medeiros de Brito (Tete Brito). A época dessa narrativa, foi a única em que tive a oportunidade de conviver com Ela nos doze dias que lá fiquei. Voltei para o Rio, apaixonada pela família... Em outras ocasiões, estive em Brasília, a passeio e poucas vezes, tive oportunidade de vê-la. Já estava casada e nem sempre podia encontrá-la... Não dava para visitar todos, pois a família era grande e o meu tempo, pequeno... A ultima vez que a vi, foi em sua casa, num almoço, com toda a família reunida, incluindo os netos do pai da Nena (meu querido irmão já falecido Manoel Ambrósio de Medeiros) e de sua Mãe Conceição C. de Medeiros, em 2007... Hoje, é essa escritora com uma versatilidade maravilhosa, sejam contos, crônicas, compositora de letras musicais, poesias e, agora , colunista e imortal...

Perdoa-me Nena, por eu expor, um pouquinho, a sua infância para que os nossos amigos do Recanto que só a conhecem agora, mulher adulta e maravilhosa escritora , fiquem cientes que aquela visão de menina forte , predestinada e inteligente, ficou na minha memória, antevendo que você seria o que é hoje, uma vencedora, naquilo a que se propôs: ESCREVER e ESCREVER BEM E BONITO! Parabéns querida e que DEUS a abençoe...

Tia Thereza

Tete Brito
Enviado por Tete Brito em 31/08/2012
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