DESABAFO, NUM DIA DORIDO.

DESABAFO, NUM DIA DORIDO.

(texto escrito por Janil Lopes Corrêa - jlc -jan)

A morte de Oscar Niemeyer, pegou-me de surpresa e confesso, emocionou-me, pelo grande sofrimento que é a perda de um imenso artista brasileiro, um dos maiores, gênio internacional, reconhecido em todo o mundo, por sua moderna e belíssima arquitetura.

Entretanto, fui surpreendido e levado às lágrimas quando, pela primeira vez, li os dois poemas, suponho únicos, que ele escreveu nos seus 104 anos de vida. Jamais imaginei que aquele gênio pudesse ter a humildade e a coragem de transmitir, sem ser piegas, para o papel, com tanta simplicidade e dignidade, que tantos desenhos de suas obras recebeu, seus sentimentos mais profundos, dolorosos, os mais puros e tão verdadeiros: o tesão; o respeito; o carinho; o amor pela mulher e a dor do exílio, além da saudade de sua Pátria tão amada. Creiam, assustei-me, emocionei-me!

Se eu estivesse escrevendo, agora, numa folha de papel, com certeza, ela já estaria destruída pelas minhas lágrimas, porque é difícil imaginar que aquele Homem, tão famoso, era tão humano, tão verdadeiro, tão humilde e ao mesmo tempo tão grandioso...

Um SER HUMANO totalmente desprovido de vaidades, de empáfia, e de tantos outros defeitos de alguns "pobres de espírito", egocêntricos e vaidosos, por tão poucas obras realizadas. Felizmente, além de todos os legados que nos deixou, deu-nos essa grande lição: Nunca é demais ser humilde, simples, desprovido de vaidades, egocentrismo, egoísmos, ressentimentos, preconceitos. O maior exemplo de ser humano deixou-nos mais esses - dois lindos poemas!

Que Deus o tenha, meu arquiteto preferido, amante, como eu, das curvas da mulher, a mais bela e a mais perfeita criatura da natureza, que tanto admiro e amo, maior e mais perfeita obra de Deus.

Sou seu admirador e, agora, também, amante confesso de suas poesias escritas e das construídas em concreto. Por isso, me orgulho, mais ainda, de ser brasileiro, e da minha Pátria que é a mais linda do planeta, que, queira Deus, produza tantos filhos, como você, meu poeta arquiteto preferido e que eles nos engrandeçam.

Que seu exemplo, de humildade, simplicidade e sapiência, nos sirva de lição e frutifique para que possamos, quem sabe um dia, na outra dimensão, em que agora vives, beijar seus pés em agradecimento por toda a honra e o orgulho que nos deu em vida... ADEUS AMIGO!

Que nossos jovens, de hoje, infelizmente tão desligados do que é belo, é verdadeiro e simples, possam, através de seus pais, fiéis seguidores, do nosso Recanto das Letras, absorver toda a beleza de um gênio da Nação brasileira, que já nos deixou, e consigam, assim, desligar-se dessa maldita inversão de valores que tomou conta do mundo, afastando-se das banalidades que os cercam, seguindo os bons exemplos que, diuturnamente, nos dão, alguns patrícios geniais em suas especialidades, como o saudoso Niemeyer.

Para que possam conhecê-lo melhor, transcrevo abaixo dois poemas desse gênio, quem diria? (Talvez os únicos que tenha escrito e, exatamente por isso, sejam jóias inesquecíveis, que devem ser guardadas para sempre)

Espero que consigam absorvê-los, para o resto de suas vidas, ao descobrirem que a modéstia, a simplicidade, a humildade, o respeito por si próprio, pelo seu próximo e, principalmente, pela Pátria, são valores inegociáveis que devem ser preservados por toda a vida. jlc

AS DUAS JÓIAS, SÃO ESSAS, ABAIXO:

Dois poemas de Oscar Niemeyer

C U R V A S

Não é o ângulo reto que me atrai

nem a linha reta, dura, inflexível,

criada pelo homem.

O que me atrai é a curva livre e sensual,

a curva que encontro nas montanhas

do meu país,

no curso sinuoso dos seus rios,

nas ondas do mar,

no corpo da mulher preferida.

De curvas é feito todo o universo,

o universo curvo de Einstein.

Oscar Niemeyer

"Sentia-me longe de tudo. De minha família, dos amigos, das montanhas, mares e praias do meu país. Precisava voltar. Certo dia, não sei porquê, esse afastamento me pareceu mais doloroso. E escrevi estes versos, que preguei na parede do nosso escritório:"

Estou longe de tudo

de tudo que gosto,

dessa terra tão linda

que me viu nascer.

Um dia eu me queimo,

meto o pé na estrada,

é aí, no Brasil,

que eu quero viver.

Cada um no seu canto,

cada um no seu teto,

a brincar com os amigos,

vendo o tempo correr.

Quero olhar as estrelas,

quero sentir a vida,

é aí, no Brasil,

que eu quero viver.

Estou puto da vida,

esta gripe não passa,

de ouvir tanta besteira

não me posso conter.

Um dia me queimo,

e largo isto tudo,

é aí, no Brasil,

que eu quero viver.

Isto aqui não me serve,

não me serve de nada,

a decisão está tomada,

ninguém me vai deter.

Que se foda o trabalho,

e este mundo de merda,

é aí, no Brasil,

que eu quero viver.

Oscar Niemeyer

jlc
Enviado por jlc em 12/06/2013
Reeditado em 12/06/2013
Código do texto: T4337513
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