Meu filho completa dezenove anos de idade. Nasceu no meio do dia, como se quisesse dizer que já tinha ouvido muitas vezes, mesmo dentro de meu ventre, eu repetindo que existe sempre um caminho do meio.
    Chorou forte, anunciando saúde e disposição para noites em claro, quando ficaríamos sozinhos e ele se acalmaria em meus braços, ao som de músicas, pois já adquirira o gosto musical. Demorou a soltar minha mão e andar sozinho, como a garantir que, um sempre poderia contar com o outro; quando falou, adiou por muito tempo a articulação da palavra “mãe”,tentando me mostrar que o significante era pequeno diante do significado que eu tinha em sua vida.


   Meu filho! Parte de mim, que hoje parte para várias partes… Trabalho, festas, cursos, encontros com os amigos na praça. Parte, mas volta. A ação de ir é inerente a ele; o mundo o
chama e ele vai. Eu o abençoo e espero sua volta. No retorno há mais nele do que posso ver. Eu apenas sinto. Sorrio discretamente, pois há mais em mim também.
    Cada ausência sua mesmo que breve, mais mãe me torna. Ele precisa ir,
não sabe ficar. Permanências lhe são inquietantes; o descanso necessário e, o
verbo “ir” flexiona-se, muda para o imperativo e ele… Ele vai!


   Está aprendendo a voar e eu estou perdendo o medo de alturas. Ele não é mais criança e por não o ser, preciso ressignificar o significado de ser mãe. Antes, sua proteção só exigia meus olhos atentos e meus braços seguros. Agora, são discursos tantos…Exemplos tantos… Enfim, orientações tantas… Ele ouve e já completa as falas repetidas. Põe em prática a metáfora que uso ao dizer que Deus lhe dará o vinho se antes ele providenciar a água, quando faz os esforços necessários que são próprios de cada dia. Gosta de me dizer sua frase favorita: “Estou acordado e vivo!”.

   Aprendi a Dizer "Awake and Alive".



 
miriangarcia
Enviado por miriangarcia em 23/08/2013
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