FLORBELA ESPANCA



FLORBELA ESPANCA (Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1894 - Matosinhos, 8 de Dezembro de 1930), batizada como Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, foi uma grande poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas trinta e seis anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo *.
Embora sua esposa fosse estéril, o pai de Florbela teve filhos de um caso extraconjugal e assim nasceram Florbela e, três anos depois, Apeles, registados como filhos ilegítimos de pai incógnito.
Foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar o curso secundário. Em 1907, Florbela escreveu o seu primeiro conto: "Mamã!" No ano seguinte, faleceu a sua mãe, Antónia, com apenas vinte e nove anos e o irmão morreu de acidente de avião alguns anos mais tarde. Essas mortes marcaram-na, levando-a a uma progressiva neurose.
Foi casada três vezes, com dois divórcios pelo meio.
Florbela tentou o suicídio por duas vezes. em Outubro e Novembro de 1930, na véspera da publicação da sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, a poetisa perdeu definitivamente a vontade de viver. Não resistiu a uma terceira tentativa do suicídio. Faleceu em Matosinhos, no dia do seu 36º aniversário, a 8 de Dezembro de 1930. A causa da morte foi uma sobredose de barbitúricos.




É a segunda vez que faço uma (muito modesta) interação a um soneto da divina Florbela. A minha escolha justifica-se pelo fascínio que o seu talento poético exerce sobre mim. Considero-a (opinião pessoal) a melhor poetisa portuguesa de todos os tempos.





 
Os Versos que Te Fiz


Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolências de veludos caros,
São como sedas brancas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E, nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!


Florbela Espanca,
in "Livro de Sóror Saudade"




 
Que posso responder, meu lindo amor
Perante tua doçura e encanto
Teus versos são esculpidos com fervor
Dão-me muita ternura e paz de santo.

Quero tua querida boca beijar
Nela degustar uma meiga poesia
Espero que me possas regozijar
Dando-me muito amor e alegria

Também te adoro sem te ter beijado
Mas guardarei o tal beijo nunca dado
Para entregar num momento de paixão!

E nesse dia tão belo e grandioso
Teremos o tempo mais delicioso
Numa entrega total de submissão!

Ferreira Estêvão




 

Pintura: Florbela vista por Botello




 
*Panteísmo - Crença de que Deus e todo o universo são uma única e mesma coisa e que Deus não existe como um espírito separado. O panteísmo ensina que Deus é todo o universo, a mente humana, as estações e todas as coisas e ideias que existem. A palavra panteísmo vem de dois termos gregos que significam tudo e deus. Poetas que escreveram sobre a natureza foram com frequência adeptos do panteísmo. Um bom exemplo desta crença são alguns poemas do poeta português Fernando Pessoa.