José de Anchieta, de origem  basca, nasceu em Tenerife, em 1534, chegou ao Brasil  pela Bahia de Todos os Santos, em 1553. Dedicou à Terra de Santa Cruz 42 anos de sua vida. Ocupou-se, com sacrifícios heróicos, da instrução e catequese dos colonos e dos índios, na linha precursora do que chamamos hoje a inculturação. Redigia com fluência em português, latim e tupi-guarani. Compôs cancioneiros, poemas e autos, muitos deles recitados e representados no Pátio do Colégio de Piratininga, em torno do qual cresceria a cidade de São Paulo. Foi autor de uma gramática e de um vocabulário da língua tupi, “a língua mais falada na costa brasileira”, como escreveria mais tarde. Em latim, compôs, entre outras obras, o primeiro poema escrito em nossa pátria: De Beata Virgine Dei Matre Maria, nas areias da praia de Iperoig em Ubatuba-SP,  O poema foi composto em dísticos, seqüências de hexâmetros e pentâmetros, num total de 5.785 versos, divididos em cinco cantos e uma dedicatória final à Virgem Maria.
    Anchieta abriu no Rio de Janeiro a Santa Casa de Misericórdia e construiu em Salvador, Bahia, a igreja do Colégio dos Jesuítas, o qual, um século depois, receberia um ilustre aluno de nome Antônio Vieira.
    Na Capitania de São Vicente, fundou as aldeias de Barueri e Guarulhos. Conseguiu a colaboração dos índios tupis na luta contra os corsários ingleses e franceses, que já se haviam instalado na baia de Guanabara.
    Na Capitania do Espírito Santo, criou as aldeias de Guarapari, Cricaré, Reis Magos, São Mateus e Reritiba, hoje Anchieta, onde morreria em 9 de junho de 1597.
    José de Anchieta pode ser considerado um dos fundadores da literatura brasileira. Sabia transmitir sua mensagem numa linguagem simples que o povo humilde entendia, linguagem musical, com os coros e danças de seus autos representados principalmente em Piratininga e Maniçoba, hoje ltu.
     Foi um missionário incansável que, apesar de sua saúde precária, aglutinou os grupos étnicos dos colonos portugueses, dos índios e dos mamelucos aos quais se associariam, mais tarde, os negros, pardos e cafuzos. Esta foi a matriz étnica da nação brasileira, para cuja formação foi decisiva a ação catequética de Anchieta.
 
“Um poema na areia
Anchieta escreve na areia,
e onda vai, onda vem,
O mar rouba à terra os versos:
Maria é dele também.

O poema vai se apagando,
porém o poeta o decora,
e seu coração é um búzio
só de louvor à Senhora.

A que nasceu sem pecado,
à que virgem deu à luz,
e, como estrela, se é noite,
o barco ao porto conduz.

Como pisou a serpente,
esmaga na terra o mal
e sobre os filhos se inclina
na luz de cada natal.”

(Dom Marcos Barbosa, OSB)