Velho

Conversando com um idoso, velho ou ancião, mas não tanto assim, ele me contava das agruras de passar dos 50 anos, ou 60, sei lá.

Ele se dizia infeliz. E me invadiu de histórias.

" O ser humano quando ultrapassa a barreira de um certa idade, ele é paródia para lugar nenhum" .

Já está aposentado. Tem seus filhos, que tem seus netos. Tinha 1 milhão de amigos que foram sumindo, e um bocado de parentes que foram se afastando, se transformando. Ou, simplesmente iam morrendo.

A mesa de Natal ia ficando mais vazia. Até ao ponto que ele e uns poucos, notavam que cadeiras sobravam. E todos os ruídos e conversas ecoavam cada vez mais longe.

E a idade vai avançando. Quando você menos percebe está segurando uma criança no colo. É seu neto que está crescendo.

Quando você menos percebe está estacionando seu carro numa vaga de idoso; no banco há um guichê só para você. Se você vai tirar carteira de alguma coisa, seja de motorista ou renovar identidade ou CPF, qualquer coisa assim, agarram você pelo braço, delicadamente e, numa sala cheia de humanos, você é o primeiro.

Em muitas situações as pessoas olham para você com indiferença e até com certa pena.

E ele me disse que tudo parecia um sonho indesejável. Você fica numa jaula imaginária e os mais novos vão percorrendo você com olhos aventalados de curiosidade por ver uma coisa diferente.

O velho, ou ancião, terminou dizendo, que se sentia inválido, numa sociedade que faz tudo para proteger o velho ou ancião, mas acabava minimizando aquele humano, tão diferente, tão frágil, tão clemente e avulso de nós, tão jovens e fortes.

- O velho é tudo, menos humano. Finalizou, olhando para mim fixamente, com lampejos de lágrimas nos olhos.

Eu me despedi logo daquele homem porque aquela conversa já causava uma certa dor e, porque não dizer, uma certa pena.

Eu, que jamais pensava em ficar velho, fui embora. Ele, sentou-se sozinho num banco, naquela praça tão florida de jovens flores...