Escutando alguém dizer Ô irmão, sabíamos imediatamente que Adriano estava se aproximando.
O forte rapaz, com seus passos firmes e longos, sussurrando algumas palavras sem sentido, jamais passaria despercebido.
 
Um gordo com aquele tipo de “gordura” engraçada, sugerindo o hábito de lanchar.
Realmente era fácil encontrar Adriano lanchando.
 
Quando eu me aproximava, se ele me via, sempre dizia:
“Olha o professor!”
Nesse ano, há dois ou três meses, ele me ligou e pediu que verificasse um arquivo no computador o qual costumava usar. Era necessário enviar o arquivo para o seu e-mail (recordo que achei engraçado o e-mail).
 
Um local muito freqüentado por Adriano eram as bibliotecas.
Citava demais cursos que pretendia fazer ou estaria fazendo.
 
Havia muita insanidade nas palavras, mas o jeito divertido cativava.
Seu jeito divertido cativou bastante o nosso supervisor, que sempre o acolheu fraternalmente.
Duas ou três vezes o gentil supervisor explicou:
“Eu prefiro Adriano aqui para impedir que ele fique andando a esmo, visitando vários setores, sem contar com a compreensão das pessoas.”
 
Certo dia, adentrando a sala que trabalho, ele me viu triste.
“E aí, professor!”
Eu devolvi a saudação educadamente.
Ele falou:
“E aí, tudo bem? (realçando o “tudo bem”)
Ficou evidente sua solidariedade na pergunta.
 
Ontem, à tarde, conferindo meus e-mails, após dar uma alegre notícia ao supervisor, ele informou que, no último sábado, um acidente causou o falecimento de Adriano (ele citou um acidente envolvendo carros, não sei se Adriano estava numa moto ou se houve motos na tragédia).

Uma bem alegre notícia que eu desejei repartir me fez saber algo tão desalentador.
Partiu Adriano das motos, dos lanches, das bibliotecas, das falas sem sentido, dos telefonemas que evitava atender, do costume de me saudar com empolgação.
 
_ Como vai, professor?
_ Estou bastante saudoso, Adriano!
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 17/09/2014
Reeditado em 17/09/2014
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