A vontade de escrever (continuação – 8.ª parte)

Meus amigos: Antonio Paiva - Maria Iraci – Selda Kalil - Suzana Heemann – Gizelda Dantas – Maria Helena - Anna Karenina.

Quero agradecê-los, colegas nesta inquietante vontade de escrever. Seus comentários estimulantes, bondosos nesta minha história que estou colocando paulatinamente neste site também muito bom que participo. quantas vezes estes comentários dão ânimo em continuar nesta jornada.

E a todos aqueles que não registrei aqui. Pode ser por puro esquecimento que às vezes nossa mente humana teima em nos pregar peças que impedem lembrar de coisas mesmo sendo de máxima importância para nós.

E continuando as palavras de minha mãe:

Como eu confiava na providência divina, fui pedir ao Frei se ele poderia atender uma pobre alma, aliás alma que foi rebelde durante quase toda sua existência...

Falei com o religioso e ele perguntou:

--- Maria Vitória, este indivíduo que você quer que eu vá confessá-lo e levar a santa comunhão é católico? Se não pertencer a nossa religião e não quiser a minha presença, nada feito!

--- Frei ele aceita a presença de um padre, só se mudar na última hora!

--- Mas ele já fez a Primeira Comunhão?

--- Nossa!!! Pior que não sei.

--- Se fez ou não fez, também não tem importância, você é catequista é só prepara-lo e depois de tudo arrumado me procure.

Minha mãe vai me contando, era como se realmente eu estivesse voltado ao tempo vendo tudo isso, detalhe por detalhe, aliás ela uma mestra também em fazer que o ouvinte vivesse também na história. Então ela continua:

--- Eu pensei que ele não tivesse feito mesmo a Primeira Eucaristia, sendo assim teria que dar aula para ele, isto é uma preparação que se deve fazer para quem vai receber o Jesus Eucarístico pela primeira vez. Me preocupava bastante, imagine querer ensinar uma mente daquela tão evoluída?

Eu ouvindo de minha mãe aquilo tudo, uma preocupação daquilo que ela tiraria de letra. Rapidamente me veio um filme na minha mente, quando eu menino ainda estava no catecismo. Minha professora é lógico, a incrível minha mãe Maria Vitória. Aquela que estudou na escola pouco mais de dois anos. Tinha verdadeira vontade de continuar a estudar, menina ainda era uma autêntica declamadora de poesia na sua escola, um dia seu pai disse que mulher não precisava estudar muito e tirou a menina que amava as letras, as carteiras, as professoras, seus colegas e claro recitar poesias.

Algum tempo depois, adulta, casada, vê na catequese uma de sua razão de viver, agarra com todo empenho, estudou, pesquisou e nos livros religiosos aprendeu muito, apesar da ajuda dos padres e pessoas amigas, ela foi uma autodidata.

Nos teatros nos meios religiosos ela foi a diretora, a orientadora, inventava efeitos especiais e o resultado foi alguns sucessos que muitos jamais esquecerão.

Lembrando disto tudo perguntei-lhe:

---E aí, mãe, o fulano recebeu de bom grado as suas aulas de catecismo?

--- Não, porque aconteceu o seguinte: ao chegar na casa dele (ela começa do início, tinha que detalhar) cheguei minha amiga vem de encontro, seu semblante era só felicidade me dá uma notícia incrível:

--- Dona Maria, meu marido é outro homem, ele reuniu os filhos e pediu perdão a todos nós, disse que se fosse possível pediria de joelhos. Olhe mesmo a senhora.

--- Eu vi no jardim imenso daquela casa, o homem sentado numa cadeira, conversando com sua filha de 12 anos e seu filho de 19 anos. Falei pra minha amiga:

--- Estou muito feliz, graças a Deus a paz voltou novamente na sua casa. Mas me responda uma coisa: seu marido frequentou alguma vez a religião católica?

--- Já, dona Maria, ele até fez a Primeira Comunhão, seus pais eram católicos, só que ele depois de rodar o mundo tornou-se um ateu. Depois deu nisso que a senhora foi testemunha, quase a destruição do nosso lar. Eu sei, a senhora sabe, meus filhos sabem que ele não terá muito tempo de vida, apesar do seu semblante agora tranquilo e feliz, a doença o está devorando assustadoramente, as dores quase sempre são lancinantes.

--- Ah! Então posso trazer o padre?

--- Bem, acho que pode! A senhora quer tentar?

--- Ah! Lourenço, outra preocupação.

---Mas porque, mãe, se já estava tudo entrando nos eixos?

--- Olha, já comentei que aquele padre encarregado das confissões era bravo, então pensei: e se Frei Alfredo quando for confessar aquele homem houver algum desentendimento. Mas o pensamento negativo foi só por alguns segundos, porque logo eu falei:

--- Jesus, meu mestre, vós sabeis tudo, tens o poder absoluto, está tudo em vossas mãos.

Fui atrás do padre, para a confissão, ou pode ser o importante encontro.

Continua... As histórias continuam(...)

A vontade de escrever (continuação – 9.ª parte)

Naquela indecisão, mas ao mesmo tempo uma firme determinação de fazer com que o padre fosse ver aquele homem que alguns dias atrás, não acreditava em Deus, relutava com todas as forças dizendo que o sobrenatural é pura invenção das religiões. Minha mãe mais uma vez conversou com Frei Alfredo, começou dizendo:

Frei, aquele homem já frequentou a igreja católica, mas por determinadas circunstâncias ficou ateu. Conforme for a sua conversa com ele, o negócio pode ficar feio, além dele ser teimoso, ainda estudou muito e teimava que suas convicções é que estão certas. O senhor pode ficar nervoso e...

--- Maria Vitória, você quer ensinar o Pai Nosso pro vigário? Já visitei muitos doentes teimosos, letrados, analfabetos, psicologicamente complicados. Vamos até a casa dele aí podemos ir conversando, (o padre ia tentando explicar à minha mãe) você conhece a minha história?

--- Mais ou menos, Frei Alfredo, só sei que o senhor foi na guerra e passou o diabo ali, ih! Perdão, diabo não! Passou apuros, foram tantos que não consegue esquecer, não leva a mal eu perguntar: por isso é que às vezes o senhor é tão nervoso?

(risos) --- Pode ser, mas eu procuro conviver com isso, só que não sou muito mais nervoso do que uma certa senhora que eu conheço.

--- Ah! Tá bom, Frei, vamos ficar empatados então. Mas continue aonde quer chegar.

--- A segunda guerra mundial!... eu participei, e como participei. Fui como capelão, vi coisas monstruosas, realmente fica gravado na nossa mente. Dos que voltaram muitos ficaram desiquilibrados, outros apenas com terríveis recordações e muitas vezes revelações que pode nos ajudar a entender estes mistérios que nós fazemos parte: vida e morte.

Estava nós num combate feroz, eu e meus companheiros, tínhamos ordem pra avançar, podia-se ver nos rostos dos soldados, desespero, só desesperança, porque em volta só mortes, corpos completamente despedaçados, o pior era quando soldados mutilados ainda com vida, no sofrimento atroz lamentavam, pediam aos céus providências, queriam a todo custo que Deus os protegessem, mas a medida que se passava era só mais matanças descontroladas, as balas por todos lados traziam só mais desespero. Muitos combatentes ainda bem moços, mal sabiam porque lutavam, porque morriam.

Deus não está aqui? Ele não existe? Ouvia-se tudo isso, porque parecia um inferno. Eu embora fosse o capelão, com experiência religiosa, apesar de tudo começava fraquejar na fé. Mesmo assim titubeava no meio dos feridos pra consolar ouvir confissões. A palavra perdão tinha sumido de minha mente. O ódio contra o inimigo aumentava numa proporção gigantesca. Só existia na nossa mente: -- matar, matar. Eu voltava a pensar, depois murmurar, Deus, onde estás, apareça, mostre um sinal.

Mas o inferno reinava. Fui impelido para um canto, era como se fosse atirado a um determinado lugar, deparei com alguém que me chamava, vi um de meus amigos mortalmente ferido, cheguei mais perto reconheci ser um de meus colegas do seminário, quase sem voz me disse:

--- Alfredo, olhe lá pra cima.

--- Onde? Não vejo nada!

--- É a Virgem, é Nossa Senhora Aparecida, ela está lá no alto, ela se denomina, a Rainha da Paz, foi ela que trouxe você aqui para ouvir minha confissão. Não perca a fé, meu amigo! Você não vai morrer nesta guerra, vais ouvir muitas confissões.

Minha mãe faz mais uma pergunta ao Padre que estava com semblante emocionado por causa das lembranças:

--- É por isso, Frei, que quando entramos na nossa Igreja Matriz aqui em São Lourenço, logo na entrada principal do lado esquerdo, vemos uma linda pintura de soldados na guerra e um deles ferido olhando para o alto vendo Nossa Senhora e o outro soldado o amparando!

E assim chegam na casa do homem bastante enfermo que abominava as coisas divinas, porque na sua lógica só existia esta vida cheia de contrastes e nós os seres humanos que surgimos por puro acaso.

Sim, minha mãe e o padre confessor.

Continua... As histórias continuam(...)