_ Lá vem o nosso querido marinheiro!
 
O cais celestial festejava a chegada de Manoel dos Santos, excelente marinheiro, amigo prestativo, honrado homem que soube provar as leves marés da jornada e enfrentar também as inevitáveis tempestades do caminho.
 
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Cá, na Terra, ele deixou uma família muito especial.
Eu destaco Terezinha e Rose, suas maravilhosas filhas.
Conheço, há dezoito anos, Rose.
Os fortes laços da nossa amizade fazem que eu a considere uma irmã.
 
Destacaria várias virtudes de Rose, porém, nesse instante de despedida, quero realçar sua extrema dedicação ao pai.
Horas incontáveis de suor que ela acharia ótimo repetir um pouquinho mais. Não havia qualquer sacrifício, somente prazer em estar ao lado dele, cuidar dele, desfrutar a preciosa presença dele.
 
Em 2004 Rose, ao lado da cabeceira materna, num hospital, viu sua linda flor viajar rumo ao insondável infinito.
Conferindo a triste partida daquela a qual tanto a embalou, restava tomar conta do adorável pai, o distinto marinheiro, que, enxergando as nuvens turvas da grande saudade, passou a ter as delicadas filhas o estimulando demais.
 
Rose, ao lado de Terezinha, jamais desanimou.
Criou as condições que permitiram ao pai continuar firme.
Nas conversas o valente Seu Manoel buscava disfarçar as lágrimas da viuvez e seguia confiante aguardando o tempo o qual Deus definiria o sonhado reencontro.
 
Às vezes os oitenta e sete anos sinalizavam um desgaste maior.
_ Minha filha, eu estou me sentindo bem cansado!
Rose, escutando a frase, sorria e beijava sua testa com máxima ternura.
 
Era o doce cansaço abençoado, a vitória dos que encaram o mundo com coragem, ardor e dignidade. Um dia o corpo não permite mais a alma brilhar e sugere, então, ir encantar diferentes partes no Universo das diversas moradas ressaltadas por Jesus.
 
Nesse domingo, ontem, o cansaço foi implacável e decisivo.
Restou às heroínas tão gentis, Terezinha e Rose, esperarem o amanhã para, todos reunidos, recordarem as aventuras do mar da existência bonita, refazendo assim o indescritível afeto que os pais sempre lhes ofertaram.
 
Elas merecerão demais!
 
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_ Lá vem o nosso querido marinheiro!
 
Seu Manoel, um pouco tímido, não compreendia a festa.
Comemoravam sua chegada.
 
Uma pessoa, com os braços abertos, o convidava a se aproximar.
Era ela, a esposa querida, a mãe de Rose e Terezinha, a flor Carmelinda.
 
Que alegria!
Seu Manoel correu e aproveitou o abraço interrompido há dez anos.
Observando as pessoas entusiasmadas, o nobre ancião apenas desejou agradecer tamanha felicidade, constatando quanta beleza Deus oferece a aqueles que edificam bem os passos da vida.
O marinheiro deixou escapar uma lágrima.
 
O simpático casal se afastou para poderem conversar mais à vontade.
Os dois, com as mãos entrelaçadas, não conseguiam conter a profunda emoção e a imensa paz inundando suas almas.
 
Eles merecem demais!
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 06/10/2014
Reeditado em 06/10/2014
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