O Lenço Noturno (*)
Dormem quase todos,
dorme quase tudo.
A noite é sólida;
o gelo, mudo.
Dormem dois terços do mundo:
atlânticas, pacíficas, mortas...
as águas dormem;
nascentes, do cimo dos montes
as águas não choram.
Velando águas cristalinas
- que descem tristes, salinas -,
o Lenço da Noite não dorme:
ele sabe, dessas águas, do abandono...
“... Porque a água dos olhos
Nunca tem sono”.
(*) dedicado a uma poetisa amiga, inspirado no poema “Há uma hora certa”, de Guimarães Rosa.