HOMENAGEM A ROBERTO BOLAÑEOS - Celismando Sodré - Mandinho

HOMENAGEM A ROBERTO BOLAÑOS

Roberto Bolaños morreu. Artistas como ele não deveriam morrer, porém, o destino é inexorável. Roberto Bolaños não era mais ele próprio; no início de sua carreira, recebeu o apelido de Chespirito, que era a forma diminutiva em castelhano de Shakespeare, numa comparação carinhosa e até irônica com o grande mestre da literatura, devido a sua forma versátil e criativa na arte de escrever; mas depois, tornou-se essencialmente, Chaves e Chapolin; na verdade, enquanto existir crianças ou alguém com o espírito de criança, pessoas como ele jamais morrerá.

Era fácil notar quando ele era Roberto Bolaños porque era mais triste e taciturno, depois que começou a interpretar tais personagens, já não sabia o limite entre ser ele mesmo, ou ser Chaves e Chapolin e o menos conhecido no Brasil, Chespirito. Lembro-me o caso de Charles Chaplin, que não sabia mais se era ele mesmo ou Carlitos, ou até o caso de Fernando Pessoa que criou seus heterônimos e não sabia ser ele próprio integral.

Roberto Bolaños, como os citados acima, são artistas universais; eles vieram ao mundo dar um alívio para o sofrimento e a angústia dos que se deparam com a incompreensão, diante de um mundo tão complexo, difícil e muito doloroso de se entender. Ele vivia dentro de um barril numa vila extremamente pobre, num cenário de artesanato, ele não precisou de quase nenhum recurso de sofisticação ou de computação gráfica para ser engraçado e atrativo.

Repetia as piadas em seus programas que ocupava os horários da TV do mundo todo, só que a grande maioria não cansava; não tinha apelação com relação ao sexo e a depravação, não se utilizava do duplo sentido, na forma mais pervertida. Era um tipo de humor que você podia deixar seu filho e seu neto assistir tranquilamente, ele, assim como os atores e atrizes que interpretaram Kiko, Dona Florinda, Chiquinha, Professor Girafales, Seu Madruga, Seu Barriga e outros, vão viver nas nossas memórias por muito tempo.

Tudo que é feito com pureza, persiste; queria eu entrar na alma de sujeitos como Roberto Bolaños, Charles Chaplin, Fernando Pessoa para entender os seus sentimento e sofrimentos. Pode ser que eles se consideravam deslocados em um mundo infame e transloucado, pode ser que eles passaram a vida buscando uma infância perdida diante da malícia, do levar vantagem em tudo, do consumismo louco e desenfreado.

Roberto Bolaños devem estar organizando o seu cenário lá no céu. Ao seu lado já devem estar Seu Madruga e Carlitos. Quem Sabe, eles possam quebrar a monotonia, de Fernando Pessoa e seus heterônimos, sempre a observar as Pombas do céu, com seu cigarro a fazer belíssimas canções poéticas, e a de Nossa Senhora sempre a fazer crochê como o próprio poeta escreveu. E quão mais belas e engraçadas serão essas tardes. Com Roberto Bolãnos e sua turma, Charles Chaplin e outros gênios do Humor.

MANDINHO
Enviado por MANDINHO em 15/01/2015
Reeditado em 15/01/2015
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