Há cem anos, nascia um homem que marcou muito a minha geração e foi reconhecido como um dos maiores místicos cristãos do século XX: Thomas Merton.
            Ele nasceu na França de família rica. Ainda jovem, converteu-se ao Cristianismo e acabou atraído pela vida de monge. Entrou no mosteiro trapista (beneditino da primitiva observância) de Getshemani, no leste dos Estados Unidos. Ali desenvolveu, como monge, uma intensa vida de escritor. O seu livro "A montanha dos sete patamares", onde conta sua juventude e conversão, marcou muita gente de minha geração e até hoje encanta  a quem lê. O livro "A vida silenciosa" era dado como literatura fundamental na formação dos jovens monges dos anos 60 e 70. "Sementes de Contemplação" é um clássico da literatura espiritual. 
                 Na última década de sua vida, Thomas Merton, sem sair do seu mosteiro, começou a animar um intenso movimento pela paz, pela não violência e contra a guerra. Era a época em que os Estados Unidos entraram na guerra do Vietnã. Diferentemente de outros monges, Thomas Merton engajou-se no movimento pela paz e contra o armamentismo. Além disso, se tornou amigo do Dalai Lama e iniciou um profundo movimento de diálogo entre o monaquismo cristão do Ocidente e os monges budistas do Oriente. Em 1968, faleceu em Bankcok, durante um encontro com monges budistas. 
          Merton nos deixou como herança a confiança de que a mística é algo acessível a toda pessoa de fé que deseje uma vida de totalidade e união com Deus. Além disso, seu testemunho é que para viver uma profunda mística, não precisamos nos afastar do mundo, nem menos ainda nos alienar em alguma visão espiritualista do mundo. Merton foi monge até o final de sua vida e, ao mesmo tempo, profundamente engajado pela paz e pela justiça.