Nasci na capital baiana, mas meus pais, até o casamento, moravam em São Roque do Paraguaçu, um local muito agradável.
 
No passado eu e meus irmãos curtíamos as férias em São Roque.
Uma época gostosa demais!
 
Lá a hospitalidade jamais deixou de prevalecer.
Testemunhei os bons ares de um autêntico interior.
Se algum visitante ou um desconhecido não sabia aonde ir, desejando encontrar uma certa casa, os moradores sorrindo indicavam o destino.
O cidadão “perdido” recebia a orientação, saboreava um copo de água, depois bastava seguir, pois, conforme fala quem mora num interior, o destino é sempre pertinho.
_ É logo ali!
 
Nas capitais a desconfiança contraria o carisma dos interiores.
A informação vai surgir ou não, dependendo do bom humor e da pressa.
Talvez não dê tempo de beber água e a distância será informada sem o habitual “É logo ali!” que escutamos nos interiores.
 
Apesar da diferença, as cidades grandes também permitem confundir o caminho almejado. Será? Permitem? 
Ulisses da Costa Cancela não pôde desfrutar esse direito.
Retornando de uma festa, guiando um carro o qual levava sua esposa e um casal, o rapaz errou o caminho, entrou na favela Vila Sapê, terminou baleado, não resistiu, morreu.
Traficantes dispararam temendo a invasão de grupos rivais.
 
* Confesso que recordo saudoso o tempo em que ia a São Roque.
Gostava demais de aproveitar a praia do lugar, gastando as preciosas horas observando as ondas serenas, dando breves braçadas, relaxando, refletindo, orando.
Parecia outro mundo!
No fim da tarde, após o ótimo dia, retornava feliz e tranqüilo.
 
Tudo era bem prazeroso.
Jamais confundi a direção, mas, caso ocorresse, eu indagaria e obteria ajuda. Nenhuma ameaça as doces brisas de São Roque sopravam.
 
Não sei hoje se São Roque mudou.
Se a praia aumentou o burburinho, se a hospitalidade ainda é forte, se é possível errar o caminho, sinceramente não sei dizer.
Na capital nunca arrisco perguntar coisa alguma, evito errar a direção, nenhum desvio opto por realizar durante as minhas caminhadas.
 
* Noto que o espírito civilizado desapareceu.
Substituíram as educadas informações por balas fatais.
 
Confundir a rota não merece piedade.
Ah! A sociedade ficou tão estranha e cruel!
 
Um abraço!

 
Ilmar
Enviado por Ilmar em 15/05/2015
Reeditado em 15/05/2015
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