Dia D ( Aniversário de Carlos Drummond de Andrade)

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No meio do sonho

havia uma pedra

no meio do sono.

Pássaros cantavam

entre as folhas...

Vestiam o vento

de Minas Gerais.

O poeta ouvia

o estalo de poemas

no quintal da velha

senhora benzedeira.

Na primeira manhã,

homens costuravam

a bandeira do divino.

Nas sombras, fantasmas

transportavam ouro e aço.

Encontravam meus olhos

o olhar do Drummond.

O eco dos poemas

desbotava camisas.

As asas dos anjos tortos

enroscavam-se no tecido

das horas, cortavam-se

na lâmina dos punhais.

Ouvíamos sussurros

nos lábios da moça

descendo a escada.

O poema escreve-se

debaixo das lâmpadas

e atrás das portas.

Viaja no azul,

acende os olhos

dos vaga-lumes.

Há protestos nas salas

sem ouro e sem velas.

No chão de pedra e sal,

quebram-se os terços,

silenciam as rezas.

Raimundo Lonato
Enviado por Raimundo Lonato em 31/10/2015
Reeditado em 02/11/2015
Código do texto: T5433569
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