Gonçalves Dias - Olhos Verdes

Dando uma passadela em meu arquivo de poemas... Além de rir um bocado, pelas asneiras que escrevi quando a alma ainda não tinha "tutano" e atrelar-me a uma danada de uma crise alérgica, lembrei-me de uma mimosidade que descobri quando ainda criança.

É interessante como nossa vida da voltas, como em um de meus escritos "Escolha", o mundo gira gira e para no mesmo lugar.

O primeiro poema que tenho lembrança de ter lido - Olhos Verdes.

Quando começei a lê-lo, as palavras foram brotando de minha memória. Aquele papel amarelado e infestado de ácaros, já era apenas um instrumento desnecessário. O poema veio a mim, que mais bela lembrança.

Tinha apenas 9 anos quando apaixonei-me por Gonçalves. Tenho 24 e continuo amando-o.

O mundo gira gira

Aos 9 anos li Olhos Verdes. Aos 24 compus Olhos Verdes

O mundo gira gira

"Olhos Verdes

Eles verdes são:

E têm por usança

Na cor esperança

E nas obras não.

Camões, Rimas.

São uns olhos verdes, verdes,

Uns olhos de verde-mar,

Quando o tempo vai bonança;

Uns olhos cor de esperança

Uns olhos por que morri;

Que, ai de mi!

Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi!

Como duas esmeraldas,

Iguais na forma e na cor,

Têm luz mais branda e mais forte.

Diz uma - vida, outra - morte;

Uma - loucura, outra - amor.

Mas, ai de mi!

Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi!

São verdes da cor do prado,

Exprimem qualquer paixão,

Tão facilmente se inflamam,

Tão meigamente derramam

Fogo e luz do coração;

Mas, ai de mi!

Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi!

São uns olhos verdes, verdes,

Que pode também brilhar;

Não são de um verde embaçado,

Mas verdes da cor do padro,

Mas verdes da cor do mar.

Mas, ai de mi!

Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi!

Como se lê num espelho

Pude ler nos olhos seus!

Os olhos mostram a alma,

Que as ondas postas em calma

Também refletem os céus;

Mas, ai de mi!

Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi!

Dizei vós, ó meus amigos

Se vos perguntam por mi,

Que eu vivo só da lembrança

De uns olhos da cor da esperança,

De uns olhos verdes que vi!

Que, ai de mi!

Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi!

Dizei vós: Triste do bardo!

Deixou-se de amor finar!

Viu uns olhos verdes, verdes,

Uns olhos da cor do mar;

Eram verdes sem esp’rança,

Davam amor sem amar!

Dizei-o vós, meus amigos,

Que, ai de mi!

Não pertenço mais à vida

Depois que os vi!"

Gonçalves Dias

Kamilla Borges
Enviado por Kamilla Borges em 13/07/2007
Reeditado em 16/07/2007
Código do texto: T563863
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