CAUBY PEIXOTO

“O luto é destinado aos que amam amar. Vinga-se a pessoa que odeia amar, odeia continuar amando. É o encontro do mais extremo ódio com o mais extremo amor. A união de dois terrorismos”.

Fabricio Carpinejar

Cauby Peixoto, temos toda razão de sentirmos saudade de ti, temos toda razão de te acusar e te perguntar: Por que nos abandonaste? Com a música firmaste um pacto implícito de solfejar todos os sons, impor todos os tons utilizando a tua belíssima voz a nos encantar sobremaneira! Rompeste o pacto e foste embora sutilmente, silenciosamente, enquanto o Brasil dormia o silêncio dos justos, partiste às primeiras horas do dia seguinte, levando no alforje as músicas que interpretaste, partiste de alma limpa e o coração repleto do amor que os fãs a ti devotavam. Detonaste a vida que reinava em teu corpo senil, a comum aceitação de viver e explorar os rumos de obscuridade e incerteza sem prazo, sem consulta sem provocação ou qualquer interrogação até o limite das folhas caídas na hora certa de cair.

Caíste, onde fica a doidivana Conceição que trocou o morro pelo asfalto, te deixando solitário a cantar somente? Era o frio de uma tarde que se tardava por entre cobertas e desespero; sentindo frio na alma, dor no peito e retendo um grito sem eco... Antecipaste a hora, meu amigo de todos nós! Teu ponteiro apressou-se, apressando nossas horas, deixando-nos o eco de tua voz, somente o eco e nada mais. Hora fatal da partida, uma ida sem volta, praticaste o adeus sem retorno, sem continuidade, o ato em si apenas, o ato que não ousamos praticar nem sabemos como praticar, a Deus pertence todos os começos e todos os fins. Depois deste ato final nada mais a fazer... “O show já terminou”

Muita gente por este Brasil afora, quiçá pelo mundo, tem razão para sentir saudades de ti, professor Cauby, de nossa convivência através de tua voz aveludada, o Camarim entoado no maior desespero de um cantor que foi e se julgava não ser mais, para nós eterno foste e para sempre serás. As palavras camaradas, simples sorriso, uma amor que nasce, outro que é desfeito. Nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais, cantada por outros em becos, cabarés ou mesmo trabalhando, que transmitia certeza e segurança...

Sim, os nossos sentimentos, os sentimentos de todos aqueles que foram teus fãs, saudades verdadeiras, muitos choram a tua ausência, acusam-te porque fizeste o não previsto nas leis que norteavam um cantor das multidões e da natureza em serdes quem sempre foste, nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste sem antes conferir o quanto és amado por uma verdadeira multidão de admiradores... .

A morte não pode ser pensada, pois é ausência de pensamento e jamais curada. Temos que viver como se fôssemos eternos, imemoráveis. Esta experiência de eternidade tu, Cauby Peixoto, tiveste no Teatro Guararapes em Recife. Segundo as tuas palavras, foi o show mais completo que fizeste e, com certeza, a eternidade tomou conta de cada um dos expectadores que neste teatro estiveram por ocasião do registro de tua glória!

Deixaste uma Ângela Maria mais triste, mais abandonada... Desafortunada, ela chora o irmão que partiu... e nós choramos por ela...

Carlos Lira

clira
Enviado por clira em 24/05/2016
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