Antônia pra tudo
O dia é todo corrido
Não dá nem pra relaxar
E o descanso, à noite
Depois da missa e rezar
Se na reza “Ave Maria”
O Senhor seja convosco
- Amanhã de manhã cedo,
Pra fazenda com Bosco!
Se vier uma chuva forte
De riacho transbordar
Certeza que a “mãe-de-rio”
A enxurrada vai levar
Tia Antônia sai na frente
Pra o bom exemplo mostrar
- Que o trabalho do inverno
O bom Deus vai abençoar!
Se a seca é prolongada
E algum bicho morrer
Trabalha mais duro ainda,
Nada de esmorecer
De domingo à domingo
Nenhum dia ela descansa
E ainda diz esperançosa:
- Depois virá a bonança!
Se a vida é muito dura
E o salário é muito baixo
Põe o leite e o açúcar
E mistura bem no tacho
Deixa o doce lá na forma
Para o tijolo moldar
- Corre logo, vem menino,
Pega o tacho e vai raspar!
Se a festança é das grandes
E precisa de salgado
O melhor é da Antônia
Faça logo o contrato!
Passa a massa, rola o rolo
E prepara o pastel
- Mas a massa sem o ovo,
Eu fiz para o Samuel!
Se o vestido é de festa
E precisa de capricho
Procure a Dona Antonia,
Que a “véia” é o bicho!
Se a menininha chora
E precisa de acalanto
Ela lhe faz com carinho
Uma boneca de pano
Se encontra um sobrinho
Bem no meio de uma farra
Dá-lhe puxão de orelha
Mas com jeitinho, sem marra
E diz com sabedoria,
- Meu filho, se comporte!
E por fim dá sua benção
- Deus te dê uma boa sorte!
É a Antônia da Lucila
Da roça e costureira
E assim como sua mãe
Uma sertaneja guerreira!
A doceira mais decente
Prendada, polivalente
Que ensinou os seus filhos
O que é que é ser gente
A Antônia que eu falo
Não é uma Antônia qualquer
Foi aqui nesse sertão,
Um exemplo de mulher
Respeitada e conhecida
Como Antônia de Valdemir
Mas agora infelizmente,
Pra tristeza da sua gente
Também teve que partir.