Ode à minha Escrivaninha
Ah! Essa escrivaninha
Simples como eu,
antiga e marcada
como marcadas estão
minhas mãos e rosto!
É sobre ela que deito
meus papéis e livros
E ponho-me a escrever.
Quantas e quantas vezes
pestanejei sobre seu madeiro
nas solitárias madrugadas,
de silencio quase absoluto
em que teimosamente
esperava por ela, a inspiração!
Seu verniz gasto e já sem brilho,
É o mesmo que a minha pele
Flácida e opaca!
De pernas enfraquecidas
E sem prumo, como o meu caminhar!
Assim mesmo, está comigo
Já há muito tempo, essa escrivaninha
De madeiro escuro naquele cantinho claro
da minha sala de estar!
Até a sua pequena gaveta,
repleta de papéis;
versos mal acabados,
esquecidos, segredos...,
emperrada está, como a minha
própria memória!
Como se vê, somos iguais em quase tudo!
Poderia ter sido uma guitarra,
Um barco, uma cama ou uma janela.
Sim, e até uma escrivaninha!
Mas, por que escrivaninha?
A bem da verdade;
Tenho ali o som poético duma guitarra
O barco das minhas viagens imaginárias.
A cama das minhas paixões e desejos.
E a janela das minhas paisagens..
O que mais preciso eu
Se não dessa síntese...
Dessa escrivaninha
Antiga, de madeiro escuro
naquele cantinho claro
Da minha sala de estar?
(Poema de Alberto Lobo de Campos)
José Alberto Lopes/outubro/21 de 2016