Um anjo de outono

O dia amanhecera lindo naquela pequena cidade do interior, frio, apesar de ainda estarmos no outono, provavelmente devido a ela, a cidadezinha, estar a mais ou menos 700m de altitude.

O canto dos pássaros, o movimento das pessoas que se deslocavam em direção ao seu trabalho ou ao centro da cidade era normal, mas algo estava para acontecer, e seus pais e eu sabíamos que isso era especial.

No final do dia tínhamos mais uma vidinha integrando nossa já numerosa família. Chegou lindo, com aquela carinha de anjo, e nossa felicidade ainda foi maior quando soubemos que seriamos seus padrinhos, que o levaríamos até a presença de Deus pela primeira vez, e, que procuraríamos acompanha-lo durante sua vida. Dando-lhe não apenas os presentinhos no Natal e nas datas especiais, mas dando-lhe bons exemplos e todo o nosso carinho.

E foi assim que o vimos crescer e nos encher de alegria com suas peripécias de Anjo sapeca.

Lembro quando aos cinco anos saiu para passear com o irmãozinho, o pai e o dindo. Queria correr e enquanto segurava a mão do seu dindo, saltitava pela rua, usando o único par de sapatos secos que tinha aquele dia, segundo sua mãe. Estávamos na casa de praia e chovia há alguns dias.

Mas o nosso anjo não tinha limite ele queria pular, ele queria brincar e ser feliz. Foi então que, ao passar por uma pequena possa d’água, entrou nela com seus dois pesinhos, e não contente com isso, sapateou dentro dela para desespero de sua mãe.

Felicidade maior para nós, seus dindos babões, foi quando sua mãe disse em um de seus aniversários, que não haveria festa naquele ano, e que ele poderia escolher um passeio para comemorar a data, e ele prontamente escolheu passar aquele dia conosco.

Depois a vida seguiu, e com seus caminhos cruzados nos separou de nosso pequeno anjo, e as coisas ficam ainda mais difícil quando um oceano se interpõe entre nós e as pessoas que amamos. Mudou-se com seus pais para a Europa.

E no turbilhão de nossas vidas pensamos sempre que temos muito tempo para um reencontro, que temos muito tempo para estarmos juntos, afinal temos toda uma vida pela frente. Esquecemos no entanto que a vida de um anjo é diferente, anjos tem pressa, tem missões, e, talvez por isso mesmo, vive tão intensamente.

Sabem que ao primeiro chamado do Senhor eles precisam voar, voar sem rumo, sem destino, e que não terão nem mesmo tempo para uma despedida, pois o céu em festa aguarda urgentemente sua chegada ... e assim nosso lindo anjo partiu aos 22 anos ...

Homenagem ao nosso querido sobrinho e afilhado Vinícius Fontoura Borges da Silva.

Lay Faggundes
Enviado por Lay Faggundes em 12/11/2016
Reeditado em 12/09/2020
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