Mães Especiais
      Muitas passaram pela minha vida. Minha mãe, minha estrela maior, soube ser mãe. Já a homenageei várias vezes, mas hoje lembrei-me de outras também dignas de meu amor e admiração.
     Você, minha madrinha Regina, tão querida, tão amada, me ajudou quando fazia faculdade e estágio perto de sua casa. Saía do colégio onde ministrava aulas e, antes de ir para a faculdade, passava em sua casa para almoçar. Almoço pra lá de gostoso. Não esqueço de suas repreensões, passando-me pito porque não comia feijão, nem tomava leite. Parece-me vê-la e ouvi-la: "faz muito mal em não tomar leite e não comer feijão." Feijão de vez em quando comia; o leite não entrava. Meu Deus, quanta saudade! Quisera hoje com você almoçar e comer seu feijãozinho, mesmo contrariada. Seu nome, cujo significado é rainha, é belo e imponente. Mãe Regina, sabe que lhe coube bem. Você foi a rainha de muitos e muitos que a admiravam pelo seu altruísmo e amor ao Próximo. Gratidão, sempre gratidão.
     Duas mães Marias me marcaram também a existência. Mamãe Maria da Glória, tempestuosa e culta, ensinou-me a gostar de ópera. Dela ganhei muitas balas e chocolates porque sempre lia os livrinhos que nos eram ofertados. Líamos os livrinhos, pensando nos chocolates e balas. Você era 10. Não tínhamos entendimento para saber que aquele era um jeito que encontrava para que nos inserisse no meio dos livros. Ela não era professora, era enfermeira da Cruz Vermelha e nos fazia curativo quando nos machucávamos. Imagina que usava mertiolate, aquele que ardia. Hoje a turma, acredito, nem sabe o que é isso.
    Você, mãe especial, conseguiu perpetuar-se na imaginação de quem a conheceu, principalmente das crianças que lhe tinham respeito inigualável. Foi com você que aprendemos a lei do silêncio. Imagina ligar som depois das dez, passear de patins à noite pela vila. Nem pensar. Mãe Maria, obrigada por seus ensinamentos.
     Outra Maria inesquecível foi a arretada baiana de Ilhéus que aqui no
Rio de janeiro fez seu nome entre amigos de seus filhos e netos. Como era brigona! Mas que coração puro! Como dava bronca! Cobrava respeito e se fazia respeitar, ó xente. Tivemos grande empatia. Adorava seus quitutes e o peixe que fazia num folha de bananeira. Era dos deuses.
Mãe Maria, guardo com muito carinho seus presentes a mim ofertados que brotaram de suas mãos de fada. A toalha verde-água de banquete adorna minha mesa de jantar nas ocasiões especiais. As almofadas de fuxico e a bela colcha azul de um trabalho maravilhoso adornam meu quarto em minha casa de praia. Lembrei-me de um fato pra lá de interessante, sabe, Mãe Maria. Quando você me falou de seus amores no passado. Adorei. Senti-me importante, como se fosse sua confidente. Eu sei quem foi seu xodó e o quanto ele representou na sua vida. Teria de fazer um livro para dizer tudo o que representa para mim a baiana de Ilhéus. Lá do Alto, você deve estar dando suas broncas, com certeza acompanhada de anjos que a beijam por nós nesse dia.
    Dona Mabel, outra mãe inesquecível. Portuguesa, da Ilha da Madeira, executava bordados extraordinários. Mãos de fada também. As iguarias que fazia eram gostosíssimas. Bacalhau sabia fazê-lo como ninguém. Suas festas natalinas eram maravilhosas. Que ceia farta e bem arrumada! O molho que se acrescentava ao bacalhau, quando pronto, dava um glamour ao prato, que saboreávamos com um gostoso vinho do
Alentejo. Pastéis de Belém sobre a mesa encantavam meus olhos, fazendo-os crescer mais que a barriga. Obrigada, Dona Mabel, por ter feito parte de minha vida. Tenho e sempre terei dívida de gratidão com essa portuguesa querida. Ela consolou meus pais quando casei e fui para longe. Sempre esforçou-se por dar alento a eles para que não se sentissem muito tristes com a minha saída de casa. Foi incrível a sua ajuda para com eles para superar a síndrome do ninho vazio. Nós, sem querer, provamos serem grandes os laços entre Brasil e Portugal.
      Outra mãezona na lista das minhas homenageadas, Zazá. Seu nome é dedicação. Ziraldo não a conheceu, mas nós a conhecemos pessoalmente e de perto. O título de supermãe cai-lhe que nem luva. Tenho lembranças maravilhosas de você e sua abnegação para com sua filha querida, a doce Amanda. Seu porte era era belo e enriquecido com um sorriso cativante de criança. Muitas vezes precisei de dormir na sua casa, principalmente quando a minha entrava em reparos. Muito alérgica que sou, precisava ser retirada de meu ambiente devido aos transtornos e poeira que ocorrem quando uma casa precisa de obra. Sua colaboração era essencial para que eu não entrasse em crise de asma. Adorava a temporada na casa de Zazá. Ela morava numa boa casa, com varanda , quintal e jardim. Não esqueço um enorme balanço em que cabia muita gente, lá numa varanda dos fundos. Era todo almofadado e pintado de branco. Que prazer lá estar. Sua danadinha, você já naquela época fazia parte do meu time: o da poesia. Nesse banco, ouvia embevecida as suas declamações. À tarde, quando eu e sua filha íamos fazer nossos deveres de casa, ela se desdobrava em mimos. Por ocasião das provas era todo carinho para conosco e nos incentivava muito, tomando nossas lições. O melhor era quando chegava a hora do lanche. Bolinhos de chuva quentinhos e gostosos davam sabor especial ao nosso lanche da tarde. Ela criava pratos simples e saborosos. Não esqueço nunca a famosa "roupa velha". Uma carne desfiada que Zazá servia com nhoque. Que comidinha bem feita e temperada com amor! Outra passagem interessante dessa incrível mãe. Todos os dias levava sua filha ao ponto de ônibus por ocasião do horário escolar. Só regressava à casa depois que a deixava dentro do ônibus. Nessa ocasião, a meninada acenava para ela com beijinhos, como forma de agradecimento por sua companhia agradável. Esqueci de dizer. Seu nome era Isaura. Mulher forte das Alagoas que nasceu para doar-se.
    Zazá, você sempre foi uma perfeita filha de Deus. Minha homenagem é singela como em vida foi você.
Vilma Tavares
Enviado por Vilma Tavares em 07/05/2020
Reeditado em 07/05/2020
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