Memórias de Dona Mocinha

Lembro do gosto da lenha, do fogo e da fumacinha,

Do toucinho pendurado, defumado, da brasinha,

Da panela de ferro, do fogão de lenha de tijolo e barro,

Da cama de palha, do fumo de rolo e do eucalipto queimado,

Do vento soprando o telhado de sapé de pau-a-pique,

Do café fraco, do feijão com angu e do alambique,

Das cinzas prateadas caindo do fogo do meio do carvão,

Depois que juntava fervia no óleo e virava sabão,

A lenha que estalava no fogo a toda hora,

Puxando a lembrança das coisas de outrora,

Quando Mocinha vivia com a gente fritando mandioca,

Sorrindo da vida, resmungando da lida, estourando pipoca,

Fazendo quermesse com Padre Renatus, bolinho e quentão,

Rezando no terço, costurando o retalho na máquina de mão,

Seu Zé agitado, na lida corrida, no trato da venda,

Desenrola, estica, corta e embrulha, mede com a fita a fazenda,

Os meninos carpindo, ligeiros, sorrindo, o milho da roça,

Puxando o burrinho, limpando o moinho e enchendo a carroça,

Das prosas esticadas, das longas cavalgadas, nas terras de Areias,

Cochichando baixinho da filha da vizinha em nossas orelhas,

Ser tão saudoso do sertão formoso, morada dos Lopes Faria,

A neblina da serra, da mata, da terra do ribeirão de água fria,

Das coisas simples do viver gostoso do Morro Frio,

Da Fazenda Esperança onde tudo começou do fubá e do milho,

Da Bocaina enluarada, cheia de contos, cheia de histórias,

Instâncias queridas, para sempre vivas, em nossas memórias.

Maria José Faria (Dona Mocinha)

Geraldo Faria
Enviado por Geraldo Faria em 28/07/2020
Código do texto: T7018966
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