Para um preto chamado Gil

Aquele preto lindo falou

Que andar com fé ajuda

Mas importa uma fé livre

Que a cor de veludo realça

E quando não se sente

Um dia isso explodirá

Que o mundo é gigante

Porque transformaram a terra

Numa simples mercadoria

Que o amor que a gente sente

É como um grão

Que se expandirá em compaixão

Que sempre haverá um amor melhor

Do que o não recebido

Que existe um lugar ao Sul

Melhor que qualquer outro lugar

Que o fruto (verde) do abacateiro

Tem mais amargo que o tamarindo

Que ser diferente é realmente o normal

Que o fim da escravidão

É diversificar as cores das mãos

De quem limpa o fogão e o chão

Que na contradição da guerra

Também se faz a paz

Por fim, aquele preto velho falou

Que importa escrever

Do corpo do negro

E ocupar espaços

Para todo preto e branco ler

E entender que o que importa

É todo e diverso saber.

PG Alencar (21/11/2021)

Homenagem e interconexão com a poesia de Gilberto Gil