Despeço -me de minha mãe da mesma forma com a qual me despedi de tudo nessa minha vida, com Poesia...

 

 

O Manto da Rainha...

 

 

A bondade de minha mãe era sem igual

Tecia noites adentro um xale de maneira magistral

Eu era só uma sorridente menininha

E ela dizia que o xale seria o manto da rainha

Ao terminar de tece-lo o embrulhou num papel de seda

Guardou para sua única filha

Anos a fio no fundo de uma gaveta

Ali o embrulhinho ficou esquecido

O tempo passava e ela penteava meus cabelos compridos

Até que um dia o tempo a juventude lhe roubou

E numa mulher sábia a maturidade a transformou

Simples e afetuosa demais

Conduziu  pela vida sua filha

A moça de Batatais

E assim moça me tornei

Com ela cuidando de mim

Do primeiro sutien

A primeira vez que sangrei

Era inverno e havia neblina

Nascia o primeiro amor no coração de sua menina

Minha mãe e meu pai agora eram dois

E o fruto do amor deles

Usava pela primeira vez pó de arroz

Devagarinho ela chegou até mim

Moça apaixonada tentando passar nos lábios carmim

Era uma noite fria

Meu primeiro vestido

As primeiras curvas do meu corpo surgia

Minha mãe preocupada a tudo assistia

Até que chorou ao contente me ver

Não queria que nessa vida eu viesse a sofrer

Jamais entregue seu coração a um homem qualquer

A simplicidade e a bondade é a maior beleza de uma mulher

Naquela noite nenhuma estrela brilhava no céu 

E pela primeira vez minha mãe pôs o xale

Para agasalhar os ombros de Raquel

Seja uma mulher digna e semeie o Bem por onde caminha

Esse xale fiz quando você era bem pequenininha

Com o cuidado e o amor

De quem tece o manto de uma rainha...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 27/03/2023
Reeditado em 27/03/2023
Código do texto: T7750397
Classificação de conteúdo: seguro