IRACEMA ENCANTADA

(Anne Souza do N. Machado)

Aquele portão me parecia enorme. No vão que ficava entre o chão e seu início se podia ver os pés daquele que vinha abri-lo.

Entrei e dei de cara com o pátio grande e ecoante. Fui logo ver se meu nome estava na lista... Alguém disse que não! Senti meu rosto pegando fogo: envergonhado, medroso, sem graça. Misto de desamor e desprezo.

Chorei baixinho. Voz miudinha que cismava doer no peito, agora apertado e pequenininho...

Com cabelos longos, lisos, de petrume intenso, ela se aproximou de mim. Acariciou-me... afagou-me... Disse-me algo em gesto. Levou-me não me lembro como, até sua sala. Lá brincavam com bola, num passa-passa frenético. Deu-me a cobiçada e com mãos ainda trêmulas entrei no jogo.

O sorriso invadiu-me a face. O peito não mais tremia, batia contente, mais vivo e ofegante do que antes.

Maria Helena, fada de minhas lembranças – professora da 3ª série. Da sala/castelo iluminado... Iracema encantada, que mesmo sem varinha de condão, magia fez. Cabelos negros, como de Iracema de Alencar. Véu das minhas memórias...

* Texto produzido na Universidade Federal Fluminense, disciplina da professora Célia Linhares – Curso de Pedagodia.