Ode à Deusa da Voz (Elis Regina)

Eu tinha apenas nove anos

quando soube que partiste,

já são tantos os enganos

que hoje sei o quanto existes

nas músicas que ficaram

como se em placas de pedra,

que ninguém mais interpreta,

pois as vozes se calaram

abafadas pela tua

voz marcante, quase crua,

sentimento à flor da pele

da mulher que nada deve

às deusas de várias épocas

da música mundial,

comoventes flores bélicas

de existência visceral.

No teu sorriso gostoso

havia um falso brilhante

de uma tristeza gritante

tal qual vulcão em repouso.

És uma estrela no céu,

nos palcos da eternidade,

um barquinho de papel

que as águas todas invadem.

Chegaste ao fim do caminho

e cedo demais deixaste

todos nós sem teu carinho

e a alegria que guardaste.

Elis, só agora te entendo,

depois destes longos anos,

cada vez mais me envolvendo

com os teus doces encantos,

que foste embora depressa

levando os sonhos que vagam,

porque todo show começa

pelas luzes que se apagam.

Vicente Miranda
Enviado por Vicente Miranda em 18/05/2008
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