A lenda

Falta uma semana para o Natal e o Papai Noel está muito preocupado com a entrega dos presentes das crianças do mundo todo. Depois do golpe da poupança na Era Collor e com os juros altos na Era Real, a fábrica de brinquedos faliu. Agora, precisará comprar os presentes direto das lojas. Fez uma tomada de preços e quase teve um infarto com os preços absurdos. Ao entrar numa loja para abrir um crediário, pediram tantos documentos, que alguns nem sabia existir. Foi obrigado a esperar 6h numa salinha abafada para aguardar a aprovação do cadastro. Não foi. Não tinha comprovante de renda. As crianças não poderiam ficar sem brinquedos, teria que pensar em uma solução. Foi quando surge uma idéia: assaltar um banco.

Roubou um carro um dia antes. Compra um revólver no mercado negro, sem número de série é claro, e usa uma meia fina de mulher na cabeça como disfarce. Entra num banco, rende o gerente, os guardas e os funcionários, manda o gerente abrir o cofre e foge com alguns milhões. Um dos funcionários, porém, reconhece e o dedura para receber uma promoção; o gerente entrega o Papai Noel para à polícia para ganhar um aumento de salário. O pobre velhinho é preso e condenado a 30 anos de cadeia por assalto à mão-armada e crime contra a economia nacional, por assaltar um banco com o intuito de consumir supérfluos e querer atrapalhar o Plano de FHC. Naquele ano e nos seguintes também, as crianças ficaram muito tristes por não ganharem presentes. A imprensa abafou o caso para não prejudicar o Plano Real e não criar um escândalo internacional. O único comentário do Papai Noel foi ter se arrependido muito de sair do Pólo Norte para Brasil. Atualmente, os pais dizem às crianças que Papai Noel não existe. É verdade. Ele foi assassinado dois meses depois de ser preso, com 32 estocadas no ouvido, por um presidiário que nunca ganhou presentes quando era pequeno.

Marcelo Melero
Enviado por Marcelo Melero em 29/01/2006
Reeditado em 08/10/2008
Código do texto: T105319