CONVERSANDO COM D.MARIA LAVADEIRA

Temos em nossa região o costume de dizer que, quando uma pessoa conversa muito, ela "fala mais do que lavadeira que perdeu o sabão". Tivemos uma lavadeira, D. Maria que, quando eu não tinha nada para fazer, ficava puxando prosa com ela. Era riso na certa. Ela tinha uma voz estridente, "desparolada", falava pelos cotovelos. Falava tudo errado, e gostava de usar palavras estranhas.

Apesar de sua pobreza Franciscana e não ter em sua casa nenhum veículo de comunicação, rádio, tv, jornais, dava notícia de tudo. Estava inteirada de tudo que acontecia no mundo: falava de Sputniks, guerra do vietnã, eleições presidenciais, e se a gente pedisse, faria até uma dissertação sobre a teoria da relatividade.

Certa vez, eu estava estudando e ouvindo-a tendo um animado monólogo com minha mãe -monólogo, ela só ela que falava- e em dado momento ela falou:

-A senhora precisa ver dona Luzia, minha netinha, a Zefinha filha do Izefa, como é desenvolvida, tem apenas 11 anos e já está masturbada!

Eu pensei:

-Essa vai ser o supra-sumo da pandegância...

E deixando os livros de lado, fui onde elas estavam e perguntei:

-A menina está o quê, D. Maria?

-Masturbada, tá masturbada.

Aí minha mãe não aguentou e corrigiu:

-Menstruada, menstruada, D. Maria.

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 14/07/2008
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