PORTEIRO DE ZONA
O professor daquela escola pública estava preenchendo a ficha dos alunos:
-Carlinhos, qual é a profissão de seu pai?
-Industrial, respondeu orgulhoso o menino.
O menino tinha um aspecto humilde, o professor perguntou:
-Indústria do quê? o que ele produz?
-Pipocas!
-O quê?! Pipocas?
-É, ele tem um carrinho de pipocas na praça da Matriz...
O Professor escreveu na ficha: "pequeno comerciante"
-E você Serginho, qual a profissão de seu pai?
-Jornalista!
O menino também tinha um aspecto humilde, o professor duvidando, perguntou:
-Em qual jornal ele trabalha? é cronista, redator?
-Nada dissso professor, ele vende jornais na rua...
O professor balançou a cabeça e escreveu: "jornaleiro".
-E você Joãozinho, qual a profissão de seu pai?
-Engenheiro!
O professor que já estava "veiaco", perguntou:
-Engenheiro ou arquiteto?
-Nada disso professor, ele trabalha em um engenho de cana, num alambique...
O professor escreveu na ficha: "trabalhador braçal"
O professor que já estava um pouco irritado, continuou:
-E você Bernardo, qual a profissão de seu pai?
-Comerciante de adubo!
Bernardo era o que parecia ser o mais pobre da turma. Seu surrado uniforme, um pouco grande para ele, provavelmente havia sido aproveitado de um irmão mais velho. O professor perguntou;
-Ele é autônomo, representa alguma firma?
-Bem professor, esse negócio de autônomo eu não sei o que é, só sei que ele cata estrume nos currais, e os vende em sacos de porta em porta...
O professor que já havia saido do sério, escreveu por falta de coisa melhor: "vendedor ambulante" continuou:
-E você Roger, qual a profissão de seu pai?
Roger era o mais arrumadinho da turma, uniforme novo, tênis caros, cabelos impecavelmente penteados. Respondeu rispidamente:
-PORTEIRO DE ZONA!
O professor idignado, olhou o aluno por cima dos óculos e disse:
-Ora seu moleque! porque você não fez como seus colegas? podia dizer que seu pai é segurança, vigia, fiscal...
O menino amuou-se e não respondeu. O professor falou:
-Diga a seu pai que eu quero falar com ele amanhã sem falta.
No outro dia, o professor já havia se esquecido do incidente. Ele ao chegar na escola viu uma limusine parada no portão. Dentro do veículo ouviu alguém gritar:
-Ei professor, por favor!
O motorista uniformizado, rápido como o Lula virando uma caipirinha, abriu a porta do veículo. Um cidadão engravatado desceu do veículo e falou ao professor:
-Eu sou o pai do Roger, ele me disse que o senhor queria falar comigo, como estou com pressa talvez possamos conversar aqui mesmo.
O professor admirado, tartamudeou:
- O pa-pai do Ro-Roger, mas ele me disse...
O Cidadão interrompeu o professor com um gesto:
-Esqueça o que ele disse professor.
-Sabe o que é meu senhor, todos os alunos inventaram nomes pomposos e fictícios para as verdadeiras profissões dos pais e o seu filho disse que o senhor era... era... porteiro de zona...
O Cidadão encabulado, olhando para o bico do sapato disse:
-Ele sempre inventa isso... eu na realidade sou deputado federal, sei lá, acho que ele tem vergonha disso...
* * *
Em tempo: filho de deputado estudar em escola da rede pública de ensino, só mesmo na minha imaginação...