AVE, AVE, AVE...
Naquela pequena cidade do interior havia um pequeno convento onde viviam três freiras: A sisuda madre superiora e duas irmãs. Elas prestavam serviço no hospital, na creche e nas escolas. Eram muito estimadas pela população. Viviam sua santa e pacata vida, as duas irmãs mais novas, tinham lá seu pecadilho: gostavam de um joguinho de azar. Tinha na cidade uma banca de jogo do bicho diferente: eram cem bichos cadastrados e catalogados, quem acertasse o bicho do dia ganhava a bolada. Se houvesse mais de um acertador o total arrecadado menos a porcentagem do dono da banca, era dividido entre os acertadores.
As irmãs as escondidas da madre, quando arrumavam um dinheirinho jogavam no bicho. Se ganhassem não teriam nem o que fazer com o dinheiro, não poderiam gastar com roupas, perfumes, jóias, era simplesmente por gosto de fazer uma coisa proibida.
Um dia a irmã Dorotéa teve um sonho inspirador, e jogou todo seu dinheiro no bicho. Ficou o dia todo na expectativa. A banca de jogo ficava ao lado do convento. A tardinha na hora da Ave Maria, elas estavam na capela cantando e rezando. Da janela da capela dava para ver a tabuleta onde ficava o resultado do jogo. A irmã dorotéa a todo instante ia na janela para ver o número ganhador. A Madre superiora perguntou o motivo da inquietação dela. Ela através de evasivas, reclamou do calor, que seus joelhos estavam doendo... Como ela era baixinha não conseguia ver direito a tabuleta.
Era dia de Nossa Senhora de Fátima, elas estavam cantando aquela velha cantiga:
"A treze de maio,
na cova da Iria,
No céu aparece,
a Virgem Maria...
Ave, ave, ave Maria"...
A Madre superiora estava um pouco surda, ela ouvia, mas não entendia bem as palavras.
E como a irmã Chiquinha era alta e esguia como um bambú e estava perto da janela, a irmã Dorotéa cantou no mesmo tom:
-Irmã Chiquinha, você que é mais alta,
mais alta que eu,
me conta agora,
que bicho que deu...
A irmã Chiquinha espichou o pescoço que nem uma girafa, viu o resultado na tabuleta e no mesmo tom, também cantou:
-Ave, ave, avestruz,
ave, ave, avestruz!
* * *