Bom Se Vê...

-Bem se vê que as luxações da felicidade acabaram...

- Ih! Começou... “Luxações da felicidade...”

Todos nós gostávamos do Aquamalte, vulgo Bom Se Vê - graças ao modo diferenciado dele girar em torno da palavra escrita até a palavra falada. Bem errado é sair por aí brincando de oximoro ou qualquer espécie de figura verbal, porque homem é o silêncio. Face calada. Mesmo carregado de uísque verdadeiro, ele é silêncio.

Foi chamado pela primeira vez de Aquamalte pelo Quitério Náutico para quebrar o sossego. Aquela monotonia inicial imposta entre os homens para selar respeito. Fizeram-se amigos. Foram amigos de muitos anos. Partiram para farras admiráveis, arquitetadas para mentes aptas a criar o verão através do buraco de ozônio, tranquilas no passatempo das cores que retornavam sempre após assombrosa chuva diluviana. Chuvarada ao cair da tarde no passado enquanto vertia luz no antigo filme da memória.

- Seu Aquamalte, de que signo o senhor é?

- Sou do signo da orgia! Peste! Claro que existe esse signo. Procure no mapa celeste. Procure. No conjunto vazio...

- Qual é a palavra mais bonita do idioma?

O bar esperando palpitante. Os cérebros ativados. Aquamalte estalou:

- Quilariô!

O mundo veio abaixo. Todo mundo repetindo “quilariô”. Palavra desconhecida e adormecida que fez surtir efeito de graça mágica da surpresa no brilho dos copos preenchidos. Tudo sorria.

Explode“quilariô” como fragmento de carinho, feito ponjô, vancê, e todos repetiam felicidade, ao eco do qual nenhum outro Aquamalte poderia suspeitar nas voltas do prazer alucinante, rompante. De inimitável prosa humorada, no gênero único da farsa lírica ao instante quimérico, posto que fantástico. A “farsa lírica do fantástico” durante o qual nada escapava. Ninguém. Tudo seu e próprio da sombra literária.

Da mania.

Depois viajou: "Foi Suíça comprar relógio!". Tirou o espelho da frente para empoar o rosto diante da máscara social do Bem Se Vê. E o Bem Se Vê, quase nem se via! Estava velho.

Quando retornou ao país dos choros olímpicos procurou saída clínica para compensar a viagem recente a matéria Escócia Blend. Internou-se num asilo de alienados com Castorp imaginário saído havia pouco dos Alpes e das páginas de Mann. Quando lhe visitamos pela última vez simplesmente confessou:

- Estou cansado desse Aquamalte bebendo oximoro...

-... E cura para oximoro não tem. Dissemos.

Restava germinar os novos prazos do mundo espirituoso com aparência de ninharia.