As aventuras de Tonico _6_O chantagista mirim...

As minhas irmãs só poderiam ir para o cinema com os namorados se acompanhadas de um dos irmãos. E a recomendação que a nossa mãe dava para nós era curta e grossa: “Se olhar beijo ou mão boba, fala, senão te boto ovo quente na boca!” Apesar dos riscos que a função exigia, eu fazia questão de ser escalado como “acompanhante dedo-duro". Maquiavelicamente engenhoso, não só assistia ao filme como me empanturrava de bombons e botava uns trocados no bolso.

O golpe era o seguinte: inventava uma vontade de urinar e voltava, minutos depois, devagarinho, aproveitando o escurinho do cinema. Então, de repente, eu estava em cima dos dois pombinhos que, aproveitando a minha ausência, entregavam-se aos amassos e mãos bobas. Aí, em cima do susto deles, eu bradava, sério:

- Vou contar para mamãe essa safadeza!

E o cabra, a não ser que estivesse sem um tostão no bolso, propunha o suborno:

- Que isso, Tonico, não viste nada. Toma, pega esse dinheiro e vai comprar bombons!

Nossa mãe era uma nordestina brava como uma leoa, e se eu contasse o ocorrido, era capaz de ela tirar a pele das meninas e pô-las para salgar; desse modo, não só para aumentar a confiança de nossa mãe nas suas santas filhas, como também para aumentar a grana no meu bolso, eu me calava. Bons tempos...

Mas, cá entre nós, o "suborno" só existia na cabeça dos idiotas, rs. Eu jamais seria capaz de dedurar as minhas irmãs, principalmente sabendo que nossa mãe tinha uma "pegada forte" na hora de aplicar uma surra!

Mas os caras não precisavam saber disso, né mesmo? Nem a nossa mãe que, confiada no meu suposto medo de ela cumprir a ameaça de me pôr "ovo quente na boca", continuava a acreditar no meu eficiente desempenho da função de cão de guarda...

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 10/10/2008
Reeditado em 22/03/2011
Código do texto: T1221597
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