DURUCA E NAZIR - Causo verídico

Eita, dois figuraços saudosos do Beco da Lama e adjacências, da Cidade Alta, das Rocas, do Alecrim, das Quintas, de Lagoa Seca, enfim, de toda nossa Natal... Nazir, o bodegueiro, aquele amor de pessoa, que na sua irreverência e falsa seriedade (no bom sentido...), encantava a todos que como eu, tiveram a felicidade de conhecer e privar de sua amizade. Querido AMIGO e irmão; de onde você estiver, fique certo de que eu, Adele, minha mulher; meus filhos, noras e netos, somos todos eternamente gratos a você, pelo bem que você me fez, e que o leitor já está “canso” de saber o que foi...E Duruca, a menina de Ceará Mirim; “ garçonete” de quase todos os beréus da Natal boêmia de outrora, era a alegria personificada; a verdadeira encarnação da irreverência. Cozinheiro de forno e fogão, de primeiríssima qualidade. Tinha vez, que nós, freqüentadores do Buteco do Nazir; éramos agraciados pelo destino, com o encontro entre Duruca e meu cunhado, com licença da palavra, Adiel de Lima...Era um Deus nos acuda! Quando estava demais a fuleragem, Nazir ía reclamar; mas não se agüentava e caía na risada, contagiando quem estivesse degustando a sua famosíssima “meladinha”... Adiel imitava tão bem um “viado”, que o próprio Duruca apregoava, se dirigindo a êle, Adiel:

- Afffe; é muuuuuuuiiiita perfeição, para ser imitação!...

Ninguém ficava sério, enquanto que Nazir monologava por trás do balcão:

- Ah! Qualidade boa!

E por trás de todos aqueles trejeitos de Duruca, de toda sua irreverência, daquela viadagem toda, existia uma criatura maravilhosa e um coração muitas vezes maior do que seu corpo físico. Uma vez, “ela” chegou no Beco toda “melosa”; e eu lhe perguntei:

- O que é que você tem, Duruca ? Está triste ?

- Estou, Bob; você não imagina nem de longe o que me aconteceu; estou grávida!

- Eiiiiita! E quem é o pai ? É alguém aqui do Beco ?

E Duruca, acentuando seus gestos, disparou:

- Isso eu não posso lhe dizer, porque não sei, né meu filho ? Eu estava de costas ?!...

Certa feita, “ela” aprontou tanto que Nazir falou irritado:

- Olhe aqui, Duruca; o buteco tem duas portas de saída; uma prá fresco e outra prá corno...

Duruca sentou-se num banco comprido que havia no buteco, e esperou que todos saíssem. Quando Nazir saiu do balcão, já para fechar o bar, falou:

- E você, mocinha; vai dormir no buteco, é ?

- Não senhor, seu Nazir; fiquei aqui só esperaaaaaando para ver por qual porta o senhor vai sair!...

Numa sexta feira, ao redor das sete da noite; o buteco cheio, com a “mundiça” de costume, e também alí se encontravam, alguns respeitáveis cidadãos da alta sociedade natalense. Eis que de repente, chega Duruca no batente da porta, umedece os dois dedos mindinhos com saliva, passa-os sobre as sobrancelhas, dá uma “rabissáca” para alguém que lhe soltou uma piada no beco, dá uma rodada que nem um bailarino; e entra espalhafatosamente no recinto; exatamente onde estavam os figurões da coluna de J. Pifa, cronista sociaal, também um “figuraço” muito saudoso de todos nós; e entrou exclamando:

- Estou mooooooorrrrta; hoje “meu poço de amor” está fechado prá balanço! Seu Nazir, por favor, bote uma meladinha para mim, meu amor; pode ser ?

E Nazir passou a servir Duruca normalmente. Só que os figurões afastaram-se todos para a outra extremidade do balcão. Aí, Duruca notou; e “ofendida”, se dirigiu a todos os que haviam se afastado:

- Que é iiiiiiisso, minha geeeeeennnnte ? Eu entrei aqui para beber uma “meladinha”; não foi “prá bater escanteio não”!...

E o buteco só faltou vir abaixo com a gritaria e a risadagem de todos!...

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 27/11/2008
Código do texto: T1305419
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.