Cine Privê

Estava tudo planejado. Todos os dias Carlinhos passava em frente ao local. Nada podia dar errado. Calculou, fez e refez o plano. Ensaiou as desculpas e lá foi. Sua mãe pensava que estava indo para a escola, mas Carlinhos iria estudar outra coisa. Colocou um boné, para que ninguém o reconhecesse. Seria a primeira vez que ele faria uma coisa dessas. Caminhou como sempre até a esquina, de onde sua mãe ainda poderia vê-lo, e assim que ela saiu ele pegou outro rumo. Sempre olhando para os lados, Carlinhos caminhou depressa até o recém inaugurado Cine Privê. Eram duas da tarde, ruas movimentadas, pessoas estranhas. O menino da puberdade estava matando aula para conhecer o cinema, a aula de ciências. Disse que se a professora Catarina perguntasse sua ausência era para dizer a ela que ele estava com caxumba. E assim foi, sorte que o Carlinhos era alto e conseguiu enganar o dono do cinema. Muita expectativa, sentou em uma das cadeiras. Não estava muito cheio, talvez umas dez pessoas. Lá de cima dava para ver melhor. Começou o filme. Pernas aqui, enfiadas ali, gemidos lá, narizes, tinha umas seis pessoas, que ele conseguiu contar, na aventura oral. Uns grunidos, nomes indecifráveis, Marta, Sheyla, Rosy, Nanda, Catarina. Catarina? Sentada a duas poltrona na frente estava a professora do Carlinhos. Num impulso ele gritou "Meu Deus!" Quase todo mundo virou para trás, inclusive a professora. Os dois arregalaram os olhos e no mesmo impulso, ao mesmo tempo, perguntaram:

- O que faz aqui?

Responderam, como um coral de gemidos:

- Aula de anatomia.

Depois desse dia as notas do Carlinhos subiram de maneira inexplicável.

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 16/01/2009
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