Leve protetor solar

Surgiu uma oportunidade para os Santos, e eles logo correm para aprontar suas malas e descer para praia. Assim foi. Durante a semana inteira a moça do tempo havia prometido um tempo perfeito para passar os últimos momentos do feriado na praia. Rita e Aurélio, mais do que depressa, colocam tudo que podem para passar os dois dias no balneário mais próximo. A mala do Aurélio podia ser levada no colo dele, já a da Rita...

- Para que tanta coisa Rita? Você vai para a praia, não para um desfile.

- Olha eu adoro estar maquiada e odeio quando chego na praia e lembro, que mesmo que a minha mala esteja estorando, deixei alguma coisa pra trás.

- Mas precisa tudo isso? Vamos apenas passar dois dias. Olha, isso aqui eu concordo: biquini, shorts, mini saia, saída de banho, toalhas, vestidinho de malha, bronzeador, creme hidratante, shampoo e creme para cabelos. Mas, quatro tipos diferentes de protetor: 50, 25, 10?

- Mas nada, pode ir deixando esse, como vou saber se o Sol estará quente? E nós sempre precisamos, vai que acontece alguma emergência.

- Rita, o que é isso? Cadê a lupa? Olha o tamanho desse biquini.

- Chega de paranóia. Deixe-me ver o que você está levando. Para que essa caixinha de isopor?

Aurélio não quis que Rita visse o que havia dentro dela, mas depois de várias tentativas e um chute no "precioso" do Aurélio, ele acabou mostrando.

- Frango? Farofa temperada? Duas latinhas de cerveja? Um quilo de linguiça? Aurélio para que você está levando isso? Você não está pensando em... Não! Não! Pode ir parando por aí mocinho, não vou farofar na praia.

- O que é que tem demais nisso?

- Como assim? E seu encontro alguém por lá? Heim, o que me diz disso?

- Encontrar alguém? Só você para me fazer rir. Vamos, não vai ter ninguém conhecido.

- Rita, Aurélio? Vocês por aqui? Nossa que coincidência.

Sim, a destemível vizinha do andar de baixo estava vindo. Rita estava deitada na areia, com os glúteos para cima e uma sombrinha florida cobrindo sua cabeça, quando ouviu a irritante voz de arara gripada. ''Meu Deus'' - pensou ela - ''precisamos arranjar um lugar, se ela ver que estamos farofando é o fim da reputação dos Santos no apartamento."

Mais do que depressa, Rita acordou Aurélio e como urubus a procura de carniça, visualizaram qualquer guarda-sol livre. Correram para um vazio e deitaram-se. Assim que a vizinha chegou, Rita fez uma cara de surpresa.

- Nossa, Marga você por aqui. Que coincidência mesmo.

- Pois é! Que fazem aqui.

Viemos recolher areia para a construção da nossa casa. Como assim o que viemos fazer aqui? - pensou Aurélio.

- Estamos passando nossas férias. O Aurélio queria ir para o Caribe, mas eu pensei que poderíamos economizar um pouco. Não que eu seja uma pessoa que econimiza, longe disso. Não é amor?

- Queria? Ah sim, queria - respondeu ele, depois de um beliscão.

- Que coisa! Vocês estão em qual casa?

Como uma coruja, Rita deu um 180º e apontou a primeira casa mais bela que viu.

- Ali, na casa branca, dois pisos e banheira de hidromassagem.

- Nossa, que bacana. Vocês tem frigobar?

- Frigobar? Claro, quem não tem, né amor.

-Temos? Ah sim, temos.

- Então porque andam com uma caixa de isopor?

- Isopor? Olha só amor, acho que algum travesso deixou isso aqui. Tem cada um né amor?

- Tem? Ah sim, temos, quer dizer, tem.

-Foi muito bom ver vocês aqui, mas será que poderiam sair debaixo do meu guarda-sol e se possível entregar a chave da casa branca, dois pisos e com banheira de hidromassagem? Porque ela é minha.

De fininho os dois, com a maior cara-de-pau, sairam. Mas antes que voltassem para debaixo da sombrinha, a Marga perguntou:

- A propósito, você tem protetor solar fator 50?

- Viu amor, não disse que iríamos precisar;

- Disse? Ah sim, disse.

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 20/01/2009
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