BOBO, DOIDO, OU ESPERTO?

Em minha cidade tinha um sujeito deficiente mental, de apelido Zé Barata. Vivia bêbado e cantando versos desconexos pelas ruas. Não deixava ninguém dormir, cantando pelas ruas. O prefeito proibira os comerciantes de dar ou vender pinga para ele. Mas para se verem livres dele e para ele ir embora, davam-lhe generosas doses de pinga.

Ele urinava no meio da rua, mostrava o pinto para mulheres que passavam. A policia o prendia, davam-lhe boas borrachadas e ele não se emendava, era só sair da cadeia e já procurava o primeiro boteco.

Uma vez em que ele estava "atacado", os comerciantes começaram a reclamar com o prefeito. Ele procurou um médico seu amigo, diretor de um hospício em Belo Horizonte e pediu para interná-lo. Dois soldados escoltaram o Zé Barata para o hospicio. Foi um sossego. O Zé sumiu. Tempos depois, eu andando em Belo Horizonte, passei por acaso na porta do hospício. Vi o Zé Barata vestido de uniforme e varrendo o pátio do hospicio. Lá da grade eu o gritei, ele se aproximou e eu perguntei:

-E aí, Zé, tá gostando daqui?

Ele com sua voz gutural respondeu:

-Eu não cunhado, aqui num tem pinga...

Ele chamava todo mundo de cunhado, estava com boa aparência, gordo, bem cuidado.

Uma vez o diretor do hospicio resolveu ampliar o prédio e colocou na obra, os doidos mais dóceis para ajudar. Os internos ficavam fazendo pequenos serviços ajudando os pedreiros. Zé Barata não gostou da idéia, sempre viveu "na maciota", isto é, sem trabalhar, sem fazer absolutamente nada. Ele ficava pra lá e pra cá, andando com um carrinho de mão, com a caçamba virada para baixo. O mestre de obra ao ver aquilo gritou:

-Ei Zé, vira o carrinho!

Ele respondeu:

-Cê besta cunhado, se eu virá o carrinho ca boca pra riba, eles enche ele de terra...

* * *

HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 03/03/2009
Reeditado em 03/03/2009
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