O CAIPIRA E O AÇOUGUE

Quinzinho morava na roça, lá no Gamelão, municipio de Abaeté MG. Era uma luta para levar seus filhos a escola. A mais próxima ficava a seis quilômetros de distância. Tinha que levar e buscar os meninos. já falava em se mudar para a cidade. Seu patrão, sabendo disso, fez uma proposta: Ele tinha um posto de gasolina em Sete Lagoas, ofereceu serviço a ele de guarda noturno e emprego de doméstica para sua esposa. Gostava muito do Quinzinho e não queria perder um empregado dedicado como ele. Ofereceu ainda lugar para morar, um barracão ao lado de sua residência, como viajava muito, Quinzinho poderia vigiar também sua casa. Quinzinho topou. Deu adeus a sua rocinha e mudou-se para Sete Lagoas.

A principio estranhou tudo, a cidade, o trabalho, e principalmente o horário: virara curiango. Mas aos poucos foi se habituando, escola pertinho da casa, vizinhança boa. Um dia ele estava dormindo e sua esposa antes de ir trabalhar falou:

-Compra carne para o almoço!.

Ele ao acordar saiu para comprar a carne. Andou, andou e não encontrou nenhum açougue. Já cansado perguntou a um transeunte:

-Adonde tem um açogue pur aqui?

O Cidadão respondeu:

-Nessa rua mesmo tem dois, aqui perto.

-Uai, eu andei nessa rua toda e num vi ninhum...

O cidadão vendo que ele era novato na cidade e vendo seu tipo simplório disse rindo:

-Aqui não falamos açougue, é casa de carnes...

Ele saiu procurando alguma placa de casa de carnes. Enfim viu uma placa e leu:

-Ca...sa de car...nes do Bau...Uai lá na minha terra tem açogue do Mozar, açogue do Calazans, açougue do Divino, mas casa de carnes do Bau, essa é nova.

Rumou para lá, estabelecimento luxuoso, funcionários engravatados, moças de uniforme, uma delas o recebeu na porta:

-Boa tarde, vamos entrar!

Ele já foi dizendo:

-Me arruma meio quilo de carne moida de segunda.

A moça admirou-se e disse:

-Carne? não vendemos carne!

Ele respondeu na bucha:

-Uai, aqui não é a casa de carne do Bau?

Ela respondeu:

-Não senhor, aqui é a casa de carnê do Baú!

* * *