O CAIPIRA E O TELEVISOR

O patrão de Quinzinho vaqueiro, vendeu a fazenda. Quinzinho não quis trabalhar para o comprador, preferiu ir morar na cidade, seus meninos tinham que andar muito para ir à escola da roça. Fez o acerto com seu patrão, homem extremamente honesto e bom. Vendeu suas vaquinhas, seus porcos e galinhas, com o montante, comprou um barracão dois quarteirões abaixo da zona boêmia. Na fazenda tinha um aparelho de televisão, em preto e branco à válvulas, pelo qual Quinzinho tinha verdadeira adoração. Na roça para o aparelho mostrar uma imagem cheia de chuviscos, o fazendeiro teve que montar uma torre de quase 20 metros.

O patrão de Quinzinho deu a ele o aparelho de presente. Quinzinho ficou eufórico. Improvisou em seu barracão uma antena presa em um longo bambú.

Na cidade havia poucos aparelhos, um no Abaeté Clube, e outros dois na casa de dois cidadãos abastados. Quinzinho ficou "intimando", a casa ficava sempre cheia de gente querendo ver a novidade.

O sinal era fraquinho, a tv tinha chuviscos, fantasmas, assombrações, era um tal de "vira a antena". Volta e meia o vento virava a antena e as imagens sumiam. Mas ainda assim era um sucesso.Porém, alegria de pobre dura pouco, não sei se pelo excesso de uso, ou por o aparelho já ser de segunda mão, um dia ele pifou.

Zé Periquito, compadre de Quinzinho, ficou sabendo da novidade e veio lá da Serra do Tigre para conhecer a tal de televisão.

Chegou no barracão de Quizinho, apeou do cavalo e entrou pelo portão numa sexta-feira a tarde. Deparou-se com o Quinzinho sentado no terreiro, cabisbaixo, picando fumo para um cigarro.

-Ba tarde, cumpade, vim cunhecê o seu apareio.

Quinzinho respondeu suspirando:

-Ba tarde, cumpade, o apareio tái na sala, pode entrá e vê, mais num tem jeito de assisti nada não, ele azangô...

-Azangô cumo cumpade?

-Sei não, cumpade, só sei que ele perdeu as feição e num pruseia mais...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 30/03/2009
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