Homenagem de aniversário

Ontem, ao chegar em casa, havia uma festa no salão. Quando chegou o elevador, desceu uma vizinha que eu conheci outro dia, também no elevador. Naquele dia ela me reconheceu como o escritor que fora apresentado no festival de talentos do Centro de Línguas da PUC. Ontem ela estava vestida para festa e, ao me ver, perguntou radiante:

- Você tem um poema?

- Tenho vários. Que tipo de poema você precisa?

- Um poema de amor. É aniversário de meu marido.

Subi, peguei nossa antologia, pincei algumas declarações de amor e voltei. Ela escolheu o 'Tu És Assim', da Tania Regina Voigt, depois de consultar a irmã que passava e que não deu muita atenção ao fato. Acontece que estava insegura, pois declamava mal, a coitada, e pediu para ensaiar.

Enquanto falávamos, diante do porteiro, os convidados iam chegando e assinando o cartão coletivo que estava sobre o balcão. Então a vizinha que declamava mal interrompia a declamação do poema para cumprimentar quem chegava. Depois voltava a declamar. Terminada a leitura do fatídico soneto, eu disse:

- Você não pode ler tão simplesmente. Erga um pouco mais as mãos e olhe para ele no fim de cada estrofe.

- Não sou muito boa em declamação - confessou. - Como você leria? Mostre para mim.

Então comecei a ler o poema com empolgação, olhando em seus olhos nos momentos mais fortes, para reforçar a declaração de amor. De repente fui interrompido por ela, que me arrancou o livro das mãos. Pelas minhas costas chegava o marido. Que situação, eu ali declamando com a maior empolgação a inusitada declaração e me chega o maridão.

- Querido. Este é o Jocelino Freitas. Ele é escritor. Nos conhecemos na PUC. Ele estava me mostrando este livro dele.

- Como vai, Jocelino? É um prazer conhecê-lo! - disse o marido, tentando entender o que ocorria ali.

- Muito prazer - respondi, contendo a vontade de rir.

- Que coincidência vocês morarem no mesmo prédio.

- É! - acorreu a esposa, com ares de culpada. - Ele escreveu vários livros. Eu recebi um convite do seu lançamento na caixa do correio, Jocelino. Foi nas Livrarias Curitiba. Era este livro?

- Não. Esse foi lançado na Saraiva. Na Curitiba eu lancei o Laços Abertos.

- E quando sai o próximo? - interpelou o marido, tentando ser simpático.

- Já estou organizando a segunda antologia, que deve ser lançada em julho. Até o fim do ano publico mais um romance.

Cumprimentei os dois e subi rindo da situação. Espero que meu novo amigo tenha entendido meu riso contido depois da declamação de sua esposa atrapalhada.