ESCOLA PARA NOIVAS
Meninos, eu vi.Ou melhor,ouvi falar,afinal todos comentavam a estória,á boca pequena ou ás gargalhadas.
Todos sabiam que a Cici estava para casar; ela é meio bobinha e o noivo,segundo diziam,só um pouco menos pateta.
Na missa de sábado, o padre cura,sujeito atilado,chama a garota para uma conversa.
-Soube que você vai casar; está preparada?
-Penso que sim, seu vigário,tem alguma coisa de especial,o casamento?
-Para uma garota tão jovem e pura como você, sim!
E, muito íntimo,voz macia:
-Sua mãe já comentou consigo sobre os deveres da vida de casada!?
-Os de dona de casa, claro!Lavar,passar,cozinhar,cuidar dos filhos.Isso tudo sei fazer,sim senhor.
-E, como chegarão os filhos?Sua mãe não lhe contou nada sobre a noite de núpcias?
-Naaão,nada sei sobre isso...
-Ou menina, menina,estou com pena de você;disse.terno,passando as mãos,levemente,nos seus cabelos sedosos.Olha,este não é lugar para se tratar deste assunto;vá á casa paroquial que vou te dar uns conselhos.
Que conselhos foram esses, ninguém soube,pelo menos,por uns dias.O certo é que Cici voltou prá casa feliz,meio nas nuvens,como se tivesse descoberto todos os mistérios.Alegre,confiante,contou tudo á mãe.
A velha senhora tudo ouviu sem demonstrar raiva ou preocupação. Era uma dessas mulheres vividas,decididas,de cabelo nas ventas,cuja língua era temida por toda a vizinhança.
Á filha, limitou-se a dizer:
-Cici, o teu noivo,o Romualdo,vem hoje jantar com a gente;Vai lá,na igreja e convida o padre para partilhar da nossa comida e da nossa alegria.Afinal,ele te ajudou tanto!
De início, o padre ficou meio de pé atrás com o convite de última hora;mas,quando chegou,teve uma recepção tão boa,uma acolhida de velho parente,que ficou muito seguro de si e calmo.
Sentou-se até, á direita da dona da casa.Esta,radiante,mostrou ao vigário,um belo frasco branco de cristal,que estava ao lado do seu prato.
-Isto é para Vossa Reverendíssima, senhor padre!falou a matrona,cheia de simpatia.
-Oh, minha senhora,quanta honra!Um vinhozinho bem escolhido,sim senhora!Aposto que de boa safra.
-Da melhor, meu santo,da melhor;apenas para o senhor!
O padre encantou-se; um vinho dourado, cintilante,como topázio líquido,brilhava na garrafa.O padre quis logo prová-lo.
Mas, assim que tomou o primeiro gole, cuspiu,indignado:
-Que brincadeira é esta!? Isso deve ser veneno,sua velha maluca!...
-Psit!,,,_disse a velha,apertando -lhe a mão por debaixo da mesa._Isso é vinho ,senhor vigário;vinho do bom,de uma ótima e única safra.Beba tudo,sem pestanejar,ou amanhã toda a cidade vai saber da estória da escola de noivas.E,entredentes:-o arcebispo vai estar aqui,sábado não é!?
E,dura como um açoite:
-Beba tudo,já!É do barril,que o senhor mesmo abriu hoje de manhã...



Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 15/05/2009
Código do texto: T1595272
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