O BAR DE RAIMUNDO TRUVÃO - Matéria do Cantinho do Zé Povo - O Jornal de Hoje - NATAL-RN - Ed. de 29/30 Ago 2009

Eita, saudade da gôta serena!

De Raimundo Truvão, de sua esposa, dona Soturna; do seu bar, dos “comensais e bebessais” que freqüentavam o mesmo e do papo maravilhoso; assim como duis presépe que ali aconteciam.

Ficava na Cidade da Esperança, esquina do pátio da antiga feira livre; quase que vizinho à casa e ao Bar do Assis, o popular “Peruca Prêta”, que era motorista do então Governador, Dr. Lavoisier Maia Sobrinho. Era ponto de ajuntamento de uma turma maravilhosa que guardei nas prateleiras de minha memória e do meu coração. Quando quase que a totalidade do bairro ainda não era calçado, não haviam os assaltos à mão armada nem desarmada; diga-se de passagem; e tanto fazia a pessoa chegar lá de carro ou a pé; o tratamento dispensado aos clientes era absolutamente o mesmo. E, segundo meu saudoso mestre Zé Cavalcante, toda rua ou bairro não é feito só de calçadas, calçamentos ou casas. Esses logradouros, além de terem nervos, alma e coração, tem também a sua história, que é a história de quantos por ali passaram e/ou viveram, amaram, sofreram. E, o Bar de Raimundo Truvão não era exceção da regra. Por lá, passaram figuraços populares como os saudosos Tebas, Pinto Pelado, Mané Capa Vaca, Peixe Galo, Chico Brasileirinho, Nascimento, Tôta, Cabecinha (motorista da SUDENE) e o prá lá de esquentado “Ôio de Pires”, que era funcionário aposentado da Base Naval de Natal, e tinha verdadeiro pavor de seu apelido. Acho que esse é um dos motivos que levou meu saudoso mestre, Seu Zé, a dizer que cada bairro ou cada rua tem a sua fisionomia, o seu estilo e seu critério próprio. Hoje não; ninguém mais nem fala nisso; mas antigamente, logo que o bairro foi fundado pelo então Governador Dr. Aluizio Alves, a rapaziada que morava por lá ficava “cum toda bixiga taboca de raiva”, quando se comentava sobre a fama de bairro e ruas de cornos; e Gaspar e João Cururu, também freqüentadores do Bar de Raimundo Truvão, soltavam os cachorros quando a gente, com o único intuito de sacanear com eles, dizíamos que ali, “quem não quizesse morar entre dois cornos; tinha que comprar uma casa de esquina”... E certo dia, ou melhor, certa noite, a “mundiça” que ali fazia ajuntamento, entre eles esse amigo de vocês; resolveu ir para a inauguração da Praça de Igapó, que seria naquela noite, inaugurada pelo então Governador Cortez Pereira. Foram bem três carros cheios de biriteiro. A praça estava absolutamente lotada. E lá p’rás tantas, o Governador, empolgado durante seu discurso, enfatizou:

- Então, minha gente do bairro de Igapó, eu quero trazer um grande desenvolvimento a esse núcleo habitacional; quero dar todas as condições de melhoria de vida a todos vocês. Quero, enfim; transformar o Bairro de Igapó, numa segunda Cidade da Esperança!...

Aí, meu fíi, o peste do Agamenon, o famoso “Peixe Agá”, que ainda hoje mora na Cidade da Esperança, na “Rua Encanto, no. 24” ( o leitor pode ir verificar in loco...), gritou dalí, bem pertinho do palanque, a plenos pulmões:

- Terreno o sinhô têm; agora eu só quero sabê onde danado é qui o sinhô vai arranjá tanto côrno prá trazê prá cá!...

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 29/08/2009
Reeditado em 29/08/2009
Código do texto: T1780821
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